quinta-feira, 26 de julho de 2007

O QUE A GENTE PENSA QUE SABE, MAS NÃO SABE

O QUE A GENTE PENSA QUE SABE, MAS NÃO SABE Laerte Braga Imagine o Brasil, um país de dimensões continentais, com um peso político e econômico decisivo na América Latina e hoje, em todo o mundo globalizado segundo os interesses do neolliberalismo, numa situação semelhante à da Argentina, pós De La Rua, com as pessoas nas ruas sem dinheiro, o Estado falido, desemprego em massa, fome, classe média atingida por um caos nunca imaginado, logo a Argentina, um país rico e de maioria branca e que, tempos atrás, chegou a emprestar, grosso modo, dinheiro aos Estados Unidos. Terminadas as eleições de 1998, quando FHC foi reeleito, em cima da conversa fiada que um real era igual a um dólar e nossa moeda era forte, os donos do mundo decidiram sangrar o Brasil, as reservas brasileiras.Com conivência governo FHC. Pouco antes das eleições, em 11 de setembro de 1998, uma turbulência na bolsa de valores de São Paulo, fez com que cerca de 1,7 bilhão de dólares deixasse o País de forma silenciosa para não prejudicar a reeleição. Em outubro do mesmo ano cerca de 400 milhões de dólares saíram, por dia, do Brasil em manobras semelhantes. O Banco Central do Brasil estava sendo saqueado e o governo não instituiu nenhum controle sobre o câmbio. Pedro Malan, ministro da Fazenda, era contra qualquer restrição ao capital estrangeiro. Elevaram as taxas de juros, num jeito artificial, e isso implicou em um aumento dos serviços da dívida externa (juros, taxas adicionais, etc) da ordem de 5 bilhões de dólares por mês. A avaliação é do banco e da consultoria J.P. Morgan, um dos maiores do mundo. Está no livro do economista canadense Michel Chossudovsky, professor da Universidade de Ottawa. Essa manobra toda custou uma elevação da dívida interna do Brasil em janeiro de 1999, para 254 bilhões de dólares, sendo que 45 bilhõesforam pagos até outubro do mesmo ano. Tudo isso foi decidido em Wall Street, centro financeiro do mundo capitalista, a denúncia é do mesmo professor. A reeleição de FHC, dois anos antes, também foi decidida pelos mesmos "donos". Uma forma de ocupar e tomar conta do sistema financeiro brasileiro. Uma espécie de compra de ações do Estado brasileiro, onde, hoje, são acionistas majoritários. De um total de reservas do Banco Central Brasileiro de julho a setembro de 1998, cerca de 30 bilhões de dólares foram transferidos para os cofres dos bancos privados. Em seguida o FMI veio com o célebre empréstimo de igual valor. Estava liquidado o Banco Central do Brasil, ainda hoje, em poder de banqueiros norte-americanos (texanos). Todo esse processo diz respeito a cada cidadão brasileiro, à medida que isso foi, literalmente, uma quadrilha no poder, vendendo e liquidando o patrimônio público nacional, abrindo mão de um projeto de crescimento econômico e largando à deriva, toda a infra-estrutura do País. Rodovias, vendeu ferrovias, serviços básicos e e estratégicos, portos, aeroportos, não cuidou de saúde, educação (iniciou o processo de retirada de autonomia das universidades públicas e privatização das mesmas, vide o primeiro decreto de José Serra sobre o assunto, agora no governo paulista). A falência geral e irrestrita do Brasil, digamos assim. Quando FHC, na sua característica forma cínica e corrupta de ser chamou os candidatos a presidente a palácio para mostrar o nível de compromissos do País com o FMI e foi claro e enfático ao dizer que estávamos falidos e iríamos seguir os mesmos passos da Argentina. Se, sempre o se, os candidatos não assumissem o compromisso de assinar uma carta de intenções com o FMI. Lula assinou. Ciro Gomes não (não tinha chances, era mais fácil). José Serra, o outro candidato, em 2002, era da copa e cozinha de FHC, sabia de tudo e também assinou, lógico. Ainda se deu ao luxo, cinicamente, de fazer críticas e ressalvas. Lula assumiu o governo em janeiro de 2003 de um País falido, dilacerado de norte a sul, leste a oeste e dominado pela corrupção. Claro. Para a reeleição de FHC indispensável a todas essas manobras,foi necessária a compra (provada) de votos de deputados e senadores). Para manter a mídia silenciosa, foi necessário pagar a dívida da GLOBO e silenciar outros órgãos de comunicação, sempre a chamada grande mídia. A corrupção foi generalizada no governo FHC entre os partidos que sustentavam o presidente. Rodovias, aeroportos e portos (os que não foram privatizados) foram deixados à matroca. Educação e saúde viraram o caos que se conhece, enfim, a tarefa de reconstruir as bases de um País como o nosso coube a Lula. O Brasil hoje não deve nada ao FMI. O governo Lula está tentando reconstruir os serviços públicos essenciais, destroçados pelas "reformas" do ministro Bresser Pereira (primeiro governo FHC e fraudador do imposto de renda). Para evitar o caos optou por silenciar sobre os danos causados por tucanos e aliados. Um erro. Poderia ter governado com o povo, bastava exibir o que fora feito e teria varrido a corrupção. Ao invés disso buscou ajudar escorpiões atravessarem o rio e acabou picado por uma série sucessiva de escândalos, pago o preço desse equívoco. Volta agora a conversa de privatizar os aeroportos, privatizar a INFRAERO, entregar o controle do espaço aéreo nacional a grupos estrangeiros, a empresas privadas, como se os acidentes aéreos fossem culpa do governo. É visível a cumplicidade da mídia nesse processo (as agências de publicidade gerenciam as contas das empresas), a GLOBO acima de tudo. A FOLHA DE SÃO PAULO, dentre os veículos impressos, e com maior ímpeto, pois porta-voz oficial da FIESP (Federação das Indústrias de São Paulo) e de Wall Street. A primeira é extensão da segunda. O caminho não é por aí. Seria fernandizar de um jeito pleno e absoluto o governo Lula. Arrematar o processo de entrega do Brasil e sua transformação na imensa roça de cana sonhada e desejada por Bush, seus celerados e a turma que tem ainda o controle acionário do Estado brasileiro. O caminho passa pela aceitação da Venezuela no MERCOSUL, passa pela criação do Banco do Sul, pela maior integração regional, pela retomada do patrimônio público, como agora a campanha pela reestatização da Cia. Vale do Rio Doce (dona do subsolo brasileiro), pela recuperação do controle acionário da PETROBRAS (ações preferenciais, em mãos de fundos de pensão dos EUA), por todo um processo que um dia Lula chamou de "projeto Brasil" e que seu governo ainda não começou, ou começou de forma muito tímida e por isso vem sendo engolido pelos "donos" e é o que a mídia, GLOBO à frente, se delicia em mostrar todos os dias. São coisas que a gente pensa que sabe, mas não sabe. Mais ou menos como enfiar a cara igual ao avestruz num buraco qualquer e fingir que não conhece a realidade, não sabe o que fala. Muito menos se preocupa com a forma como somos usados. No todo ou individualmente.

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