domingo, 30 de março de 2008

Neoconservadorismo: A guerra interminável

A guerra interminável criar PDF versão para impressão enviar por e-mail
03-Mar-2008
Rui BorgesCom o seu mandato a entrar na recta final George W. Bush está empenhado em organizar o legado da sua administração, a visão que a história guardará da sua presidência. A sua corte de neoconservadores começa já a dar forma a essa visão e a preparar o terreno para o que a ideologia neoconservadora sobreviva na arena política muito para além do fim do mandato de Bush.

Para William Krystol, um dos grandes divulgadores do neoconservadorismo, a presidência de Bush foi um sucesso e a receita para que essa ideia permaneça passa por uma atitude mais conciliadora na política interna e por evitar vacilações na política para o Iraque e Afeganistão. O actual reforço de tropas no Iraque deve continuar durante tanto tempo quanto o necessário e, se Bush quiser dar provas da sua seriedade, ainda deve tentar atacar o Irão ou a Coreia do Norte.

O principal argumento dos neocons para defender o sucesso da presidência de Bush é a redução da violência no Iraque e a consequente perspectiva de a guerra estar a ser ganha. A possibilidade de uma vitória americana é no entanto ilusória. O decréscimo da violência deve-se em parte à diminuição do conflito sectário pelo controlo de Bagdade (do qual os xiitas saíram vitoriosos), que sob a vigilância do exército americano acantonou as várias comunidades religiosas em zonas separadas da cidade. Um dos resultados deste conflito foi a trégua estabelecida com os grupos sunitas que formaram os Sahwas ou Conselhos Despertar. Estes grupos são constituídos por homens que há um ano atrás eram temíveis terroristas da Al-Qaeda e que agora recebem de Washington 300 dólares por mês para patrulhar as suas cidades (o que já antes faziam) e não atacar as forças americanas. Apesar disso os assassinatos, atentados e ataques contra soldados americanos continuam a um ritmo diário. A violência pode ter diminuído se comparada com os dias sangrentos da batalha pelo controlo da capital em 2006, mas permanece tão catastrófica como em 2003, 2004 ou 2005.

Mas há uma razão para o entusiasmo dos neoconservadores. O seu objectivo é condicionar de tal forma as decisões do futuro presidente que a guerra tenha que ser continuada. Bush pretende entregar ao seu sucessor um Iraque inundado de soldados americanos, com acordos assinados com o governo iraquiano para o estabelecimento de bases militares e sobretudo uma aparência de calma no terreno. Assim reclamará que a vitória está ao alcance dos Estados Unidos. Se John McCain ganhar as eleições esta política terá o seu continuador natural. Mas se a vitória for para os democratas, o preço político de alterar o rumo imposto por Bush será considerável. Afinal nenhum dos futuros inquilinos da Casa Branca quererá ficar para a história como o (ou a) presidente que perdeu o Iraque. É este o legado que Bush pretende deixar para o futuro: uma guerra impossível de ganhar, mas também impossível de terminar. Qualquer tentativa, mesmo a mais tímida, de diminuir a presença americana no Iraque (e quer Clinton quer Obama têm propostas bastante tímidas) ficará sujeita a todas as acusações de fraqueza e vacilação. Fica assim aberto o caminho para o regresso ao poder dos falcões neoconservadores.

Rui Borges

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