sábado, 22 de maio de 2010

O ocaso da Terceira via

O ocaso da “Terceira Via”

Economicamente, além de não blindar a economia britânica, também conduziu o país num ritmo de crescimento que só fez reduzir sua relevância na economia global..

Publicada: 18/05/2010 - 20h44m|

  • Gordon Brown: O Trabalhismo inglês não foi capaz de preparar o país para resistir à crise mundial
  • Gordon Brown: O Trabalhismo inglês não foi capaz de preparar o país para resistir à crise mundial
A auto-intitulada “Terceira Via”, em sua tentativa de estabelecer “diálogos” com o neoliberalismo terminou engolida por este. O Trabalhismo inglês não foi capaz de preparar o país para resistir à crise mundial, que arrasou importantes instituições britânicas e ampliou o desemprego e a miséria. Economicamente, além de não blindar a economia britânica, também conduziu o país num ritmo de crescimento que só fez reduzir sua relevância na economia global, reforçando a centralidade da economia alemã no contexto europeu. O esgotamento da "Terceira Via" mostrou-se no resultado das últimas eleições inglesas Há treze anos, o Trabalhismo inglês ascendia ao poder com uma nova roupagem. A “Terceira Via” proposta por Blair, Giddens, entre outros, pretendeu renovar o pensamento e a ação da esquerda européia, indicando um caminho alternativo frente à crise do projeto social-democrata tradicional e do socialismo soviético. O resultado das últimas eleições inglesas atestam o esgotamento desta experiência e seu significado tem muito a dizer à esquerda neste início de século. O debate no interior da esquerda sobre o futuro do socialismo pós-Muro de Berlim foi conduzido principalmente pelos ideólogos mais eminentes da social-democracia e do trabalhismo inglês, num momento em que a esquerda de orientação marxista dividia-se – em suas diversas vertentes teóricas – entre a perplexidade e a tentativa de explicações imediatistas. Como a social-democracia já descartara – há muitas décadas – um projeto de ruptura com o capitalismo, sua opção por um novo caminho não a conduziu na direção de um eventual corredor entre o velho bolchevismo do partido único e a social-democracia, que triunfara em vários países da Europa. Sua opção foi a busca por um lugar situado entre o centro e a centro-esquerda, por ela representada, abrindo espaço para uma espécie de acordo “tácito” com alguns princípios fundamentais do projeto neoliberal, que advogava em favor do desmonte das conquistas do Estado de Bem-Estar como única maneira de “sair da crise”. O serviço foi feito. As sucessivas crises do capitalismo global depois da queda da URSS demonstraram, porém, que a capitulação da social-democracia ao domínio do capital financeiro como tutor da vida pública universal e seu distanciamento dos movimentos sindicais e populares que lhe deram origem, empobreceram seu ideário político e lhe afastaram dos “de baixo”, vulgarizando sua agenda como uma agenda “materialista-economicista” no mau sentido. Terminou por enveredar para uma tentativa anêmica de salvar o capitalismo específico da globalização financeira, sem considerar o empobrecimento da sua base social e a sonegação de seus direitos básicos. A social-democracia, portanto, não encontrou um caminho salvacionista, que consolidasse os “direitos dos pobres” – conquistados ao longo de décadas – mesmo dentro do modo de vida e das estruturas de poder da sociedade capitalista. Os frutos do progresso científico e da produtividade acabaram sugados pelo “rentismo globalizado” no desvario que redundou na crise do “sub-prime”. E, desta forma, a social-democracia européia foi perdendo, gradativamente, força social e legitimidade política. O caso inglês, neste sentido, é paradigmático. Cumpre reconhecer que alguns acertos parciais do Trabalhismo inglês tiveram reflexo nestas eleições. A hegemonia trabalhista na última década foi capaz de produzir (ao menos) uma importante mudança no léxico político nacional, fenômeno atestado por um interessante levantamento da revista “The Economist” acerca dos recentes debates. David Cameron, líder conservador, apoiou-se no lema “Conservadorismo com compaixão”, explicitando um claro deslocamento ao centro de seu partido. Os temas que se relacionam com o “cuidado com os mais pobres” estiveram no centro dos debates eleitorais. Além disto, alguns resultados sociais dos governos trabalhistas são relativamente positivos: o acesso à saúde foi ampliado significativamente, assim como o acesso ao ensino superior; meio milhão de crianças saíram da pobreza e os investimentos em educação foram duplicados nestes treze anos.
Entretanto, apesar de alguns avanços como estes, os governos trabalhistas não lograram resolver, nem ao menos parcialmente, os principais impasses do modelo sócio-econômico britânico. A desigualdade social, por exemplo, se manteve estável, incidindo fortemente sobre o nível de satisfação dos britânicos com seu país. Pesquisa recente revela que 71% da população acreditam que o país está se tornando um lugar pior para se viver. Mas, afinal, qual o legado da “Terceira Via” em meio ao ocaso de uma hegemonia que até pouco tempo parecia tão sólida? Não seria preciso um grande esforço de análise para concluirmos que a auto-intitulada “Terceira Via”, em sua tentativa de estabelecer “diálogos” com o neoliberalismo terminou engolida por este. O Trabalhismo inglês não foi capaz de preparar o país para resistir à crise mundial, que arrasou importantes instituições britânicas e ampliou o desemprego e a miséria. Economicamente, além de não blindar a economia britânica, também conduziu o país num ritmo de crescimento que só fez reduzir sua relevância na economia global, reforçando a centralidade da economia alemã no contexto europeu. A descaracterização político-ideológica do Trabalhismo inglês foi tamanha ao ponto de a Inglaterra se transformar na grande fiadora da invasão dos EUA ao Iraque, ocasião na qual Tony Blair afirmou “não haver duvidas” que Saddam Hussein possuía armas de destruição em massa. A convergência do trabalhismo e dos conservadores para um centro anódino que não produziu novas alternativas de coesão e inclusão social e nem novas formas de controle público do Estado, não só confundiram o eleitorado de esquerda e social-democracia, como também não responderam ao necessário reencontro da esquerda com os valores democráticos e com as exigências dos novos modos de vida, incrementados pelas novas tecnologias informacionais. Até mesmo o prestígio internacional, que outrora gozavam os próceres da “Terceira Via”, foi reduzido a pó e nem mesmo aquela parcela da social-democracia convertida aos dogmas neoliberais (como o PSDB no Brasil) tem coragem de assumi-los como referência hoje. Ocorre que uma verdadeira “terceira via” – a que realmente poderia regenerar os valores humanistas da esquerda, depositária das idéias libertárias da ilustração e das grandes revoluções – jamais poderia emergir de uma parca “mistura” da idéia da democracia com a anarquia do mercado sem regulação. Somente seria possível falar em uma “terceira via” a partir de uma síntese superior do republicanismo democrático com as idéias de emancipação herdadas daquela social-democracia anterior ao seu conhecido “racha”, determinado pela exceção da revolução russa. Ao nos recordarmos do quanto foram incensados, mundo afora, os ideólogos da “Terceira Via” inglesa naqueles anos cujo pensamento de esquerda ainda caminhava, errático, pelos escombros do antigo muro, não deixa de parecer irônico que, neste início de século, seja exatamente da América do Sul que surjam ares renovadores no seio da esquerda mundial. E eles se expressam em plataformas concretas de governos democráticos, dirigidos por aqueles mesmos partidos de esquerda (por vezes aliados ao centro democrático) sobre os quais o trabalhismo inglês pretendeu despejar suas lições. A esquerda do velho continente abre o século XXI diante do desafio de fundir o antigo humanismo libertário das grandes revoluções com a democracia assumida enquanto valor universal. E pode encontrar na América Latina um bom terreno de observação.

Serra ataca o patrimonialismo no Estado brasileiro

Serra ataca "patrimonialismo" do Estado brasileiro

Pré-candidato tucano recebe propostas do aliado PPS, afirma ver retorno ao modelo primário da economia e critica sistema eleitoral

iG São Paulo | 21/05/2010 22:19

O pré-candidato do PSDB à Presidência, José Serra, afirmou nesta sexta-feira que o Brasil vive o “momento mais patrimonialista de sua história”. Ele criticou o que chamou de “uso do governo como propriedade privada”, atacou o suposto loteamento partidário de agências reguladoras e disse ter a impressão de que até mesmo durante o período oligárquico da República Velha, entre 1989 e 1930, a situação no País era mais organizada. O discurso foi feito durante evento organizado pelo PPS (Partido Popular Socialista) para entrega de propostas ao pré-candidato tucano, em São Paulo.

Foto: AE/WILLIAM VOLCOV

Serra recebe do presidente do PPS, Roberto Freire, documento com propostas do partido aliado

“Criamos agências para não ter arbitrariedade. Na Saúde, criamos a Agência de Vigilância Sanitária, com técnicos, e a Agência Nacional da Saúde, que lida com planos, e que hoje ficaram loteadas pelos partidos. Vi que um ex-candidato em Brasília virou diretor de agência sem ter a menor credencial pra isso. Não conheço perversão maior. É um prejuízo para a capacidade de gestão”, disse o ex-ministro da Saúde, à frente de um cartaz em que aparecia junto com o tucano Aécio Neves, ex-governador de Minas, e do presidente do PPS, Roberto Freire. Serra, que iniciou o discurso elogiando a contribuição do antigo Partido Comunista do Brasil (PCB) - que deu origem ao PPS - para a cultura nacional, criticou, logo à frente, a atuação de grupos e associações que reúnem “dez, quinze mil pessoas e dizem falar em nome de todo o Brasil” – antes de deixar o governo de São Paulo, ele enfrentou greve de professores e atribuiu o movimento a interesses políticos. Disse que a ignorância e o corporativismo são inimigos do País. “Isso é herança do bolchevismo, sem a utopia e com todo o lado ruim. São pessoas que, em nome do partido, fazem qualquer coisa”. O pré-candidato tucano afirmou ainda estar preocupado com o que chamou de retorno da economia brasileira ao modelo primário e exportador, que vigorou até os anos 1930 e ruiu após a crise de 29. Segundo ele, o Brasil vive “um impasse de política econômica e comércio internacional”. Ele criticou o excesso de importações de produtos intermediários, disse que China e Índia possuem políticas mais agressivas, e ressaltou a dificuldade de se criar empregos sem uma “indústria pujante” no Brasil. “O que nós temos por diante é uma escolha. Ou voltamos a um modelo que não vai ser capaz de oferecer empregos que o Brasil precisa no volume e na qualidade”. Serra usou ainda a definição marxista de infra-estrutura – segundo a qual as relações de produção e exploração da força de trabalho moldam as relações e ideologias existentes numa sociedade – para criticar o “economicismo do processo político nacional”. “A política sempre ficou no segundo plano”. Segundo ele, o Brasil perdeu em sua história a oportunidade de se instalar o parlamentarismo e implementar reformas no processo eleitoral – entre os pontos defendidos pelo PPS está a reforma política em torno do voto distrital misto, com lista fechada, e financiamento público de campanha.

Entre críticas feitas ao atual modelo, Serra citou o tempo entre as convenções partidárias para definição de pré-candidatos e o início das campanhas e o fato de o sistema permitir a participação de candidatos nanicos na disputa. “Isso atrapalha tremendamente o processo eleitoral”.

Esquerda

Em sua fala, pouco antes do discurso do pré-candidato aliado, o presidente do PPS, deputado Roberto Freire, afirmou que a esquerda hoje é reacionária porque é “prisioneira do passado” e não entende a importância do desenvolvimento da ciência. Citou a resistência de determinados grupos a pesquisas com células-tronco e transgênicos. “O mundo tem outra agenda, se move de forma distinta no modo de produzir e isso muda o conceito das instituições. A agenda agora é diversa. Os cenários, distintos”. Freire afirmou também que o movimento sindical brasileiro passa por uma crise porque as entidades foram “cooptadas pelo governo”. “Temos seis centrais e uma delas dizendo que é única. Não se discute o futuro, suas contradições e como se posicionar frente a isso. O mundo não é mais ‘burgueses contra proletários’. É o mundo da robotização e da ciência. Nós precisamos dizer que o que é de esquerda é o que está aí. E esse é o desafio de José Serra”, disse.

domingo, 9 de maio de 2010

A Nova Mata Hari - agora o Limonov que tá aguentar

A 'nova Mata Hari'

Ekaterina Gerasimova é, muito provavelmente, o verdadeiro nome de ‘Katya’, uma jovem russa ao serviço do Kremlin, que já é comparada a Mata Hari, a célebre espia holandesa, por ter drogado diversos opositores do primeiro-ministro russo Vladimir Putin, com o intuito de ter relações sexuais com eles, para posteriormente publicar os vídeos na Internet.

Por:Isabel Chaves

A técnica utilizada pela bela jovem é muito semelhante à que o serviço de espionagem russo KGB utilizava durante a Guerra Fria, para chantagear os diplomatas ocidentais. Um pouco mais subtil, agora, o método visa desautorizar os opositores ao regime, ridicularizando-os publicamente, através da Internet.

Katya é acusada de ter tido relações sexuais com, pelo menos, seis opositores de Putin, a quem drogou com cocaína ou marijuana, de acordo com o diário britânico 'The Telegraph'.

O jornalista russo Viktor Shenderovich foi a sua última vítima. Casado e com uma filha, Shenderovich foi filmado a ter sexo com a jovem e espera agora ver o vídeo na Internet, com legendas e músicas a ridicularizarem as imagens, uma vez que é este o procedimento comum de Katya para com as suas vítimas.

Mas Shenderovich não está sozinho. O ex-dirigente do movimento de extrema-direita anti-imigração ilegal, Alexander Belov, também já confirmou ter tido relações com Katya.

Já o líder do partido Nacional Bolchevique, Eduard Limonov, não confirma a sua presença nas imagens.

Mikhail Fishman, o editor da revista ‘Newsweek’ em russo, e Roman Dobrokhotov, do mesmo movimento que Yashin, também foram presas da jovem.

Ilya Yashin, líder da ala jovem do partido democrata russo Yabloko, outra vítima, afirma que Katya é uma agente secreta.

Katya Gerasimova, Moomoo ou Ekaterina Guerasimova são alguns dos nomes atribuídos à jovem, que é identificada como modelo.

Segundo Kirill Kabanov, um ex-agente do KGB, as imagens são obra de ‘profissionais’, porque são filmadas por várias camaras e pela forma como são editadas. Este escândalo já é conhecido como ‘Katyagate’, numa alusão ao caso ‘Watergate’, que levou à demissão do presidente americano Richard Nixon.

Eduard Limonov - a nova arma secreta do Kremlin

Histórias: O 'Katiagate'

A nova 'arma' secreta do Kremlin

por ALEXANDER OSIPOVICH, jornalista da AFPHoje

Este é um caso de sexo, mentiras e vídeo em que uma jovem anda a tentar os críticos do Governo de Vladimir Putin. A jovem, que se encontra agora em paradeiro desconhecido, foi identificada como modelo e os seus métodos não estão muito longe dos atribuídos à histórica Mata Hari.

A história é digna dos melhores tempos do KGB: uma jovem bela e misteriosa, "Katia", seduziu opositores do Kremlin e filmou secretamente estes encontros para depois difundir as imagens através da Internet, desencadeando uma série de protestos e outros tantos embaraços.

As vítimas de "Katia" caíram numa armadilha que traz à memória os métodos dos serviços especiais soviéticos durante a Guerra Fria, quando o alvo eram os diplomatas ocidentais. Estes, seduzidos por jovens desembaraçadas e despreconceituosas, acabavam por revelar segredos dos respectivos países.

Esta táctica foi agora reconvertida e usada contra os opositores ao Governo do novo homem forte da Rússia, Vladimir Putin, com a finalidade de lhes criar embaraços e diminuir a sua autoridade moral como figuras públicas.

Num vídeo divulgado na passada semana, três figuras da oposição russa surgem em separado com a jovem "Katia", num apartamento em Moscovo, em cenas íntimas filmadas sem o conhecimento daquelas. Duas destas figuras, o humorista liberal Viktor Chenderovitch e um antigo dirigente de extrema-direita, Alexandre Belov, confirmaram serem eles a aparecerem nas imagens.

"Há mais de dez anos que comento as acções de Putin e da sua administração de criminosos (...), nunca negaram nada para agora responderem com obscenidades ilegais", escreveu Belov no seu blogue.

Um terceiro elemento da oposição, Eduard Limonov, o líder do partido nacional-bolchevique, não confirmou se era ou não ele quem aparecia no vídeo, mas este escritor divorciado comentou no seu blogue que "estar na oposição não nos impede de ter relações com mulheres".

As imagens comprometedoras, difundidas com música de fundo, e revelando a presença de várias câmaras no quarto, o que indica premeditação, são "obra de profissionais", comentou Kirill Kabanov, um antigo agente do KGB que trabalha agora num organismo anticorrupção. "É preciso observar o alvo, colocar os seus telefones sob escuta de maneira a entender como utiliza o seu tempo e fazer as coisas de forma que a vítima não se aperceba de nada", explicou ao semanário russo The New Times.

De acordo com Kabanov, é todavia pouco provável que os serviços especiais russos (FSB, o ex-KGB) estejam implicados neste caso. Para o antigo agente do KGB, este "é mais o trabalho de empresas de segurança privadas que possuem os equipamentos técnicos apropriados".

O escândalo da "Katiagate" começou em Março com um vídeo em que surge um homem parecido com o chefe de redacção da edição russa da revista Newsweek, Mikhaïl Fichman, muito crítico face ao poder político, a consumir um pó branco lado a lado com uma morena deslumbrante.

Fichman não confirmou a sua presença no vídeo, reconhecendo contudo ter sido alvo de uma "operação especial" preparada pelas autoridades russas.

Ainda outras duas figuras da oposição russa reconheceram também terem sido alvo de tentativas semelhantes, com a mesma mulher e no mesmo apartamento que aparece no vídeo com Fichman. Ilia Iachine, do movimento de oposição Solidariedade, identificou a jovem como Ekaterina - diminutivo de Katia - Guerassimova, uma manequim com quem teve uma relação em 2008. Actualmente, Katia encontra-se em paradeiro desconhecido.

sábado, 1 de maio de 2010

àgua que não acaba mais

Água que não acaba mais
Estudos mostram que o Aquífero Alter do Chão pode ser o maior manancial subterrâneo do mundo, com capacidade de abastecer a população mundial por três séculos. Pesquisadores alertam para a necessidade de uso sustentável

A Região Norte é, sem dúvida, um dos maiores símbolos da riqueza natural encontrada no Brasil. Agora, além de abrigar a Floresta Amazônica e o Rio Amazonas, ela pode ser conhecida por possuir a maior reserva mundial de águas subterrâneas. Estudos realizados pela Universidade Federal do Pará (UFPA) e da Universidade Federal do Ceará (UFC) apontam que o Aquífero Alter do Chão, localizado sob os estados do Pará, do Amazonas e do Amapá, pode ser o maior do planeta.

A hipótese é baseada em dados ainda iniciais, mas fortes o suficiente para entusiasmar os cientistas. Eles indicam que o aquífero detém um volume de água que alcança 86.400km³ (86,4 trilhões de litros), o dobro da quantidade encontrada no Aquífero Guarani - localizado entre Brasil, Paraguai, Uruguai e Argentina e considerado atualmente o maior manancial subterrâneo de água doce do mundo, com 45 mil quilômetros cúbicos.

Os pesquisadores envolvidos nos estudos acreditam que o Alter do Chão poderia abastecer a população mundial por 300 anos. "A existência desse aquífero já era conhecida há vários anos, mas não havia estudos comprovando seu potencial. Não temos dúvidas de que se trata do maior aquífero do mundo", afirma Milton Matta, geólogo da UFPA que participa da equipe técnica que analisa o manancial.

A equipe de pesquisadores - formada ainda pelo professores Francisco Matos de Abreu, André Montenegro Duarte e Mário Ramos Ribeiro, da instituição paraense, e Itabaraci Cavalcante, da UFC - tem indicativos técnicos que comprovam o potencial de uso das águas do Alter do Chão, como a menor vulnerabilidade a contaminação e a maior facilidade de extração do líquido.

Matta explica que, entre a superfície e o Aquífero Guarani, há uma formação de rochas basálticas muito antigas, repletas de fraturas verticais que se tornam caminho fácil para contaminantes atingirem a água, tornando-a mais poluída. Além disso, essas rochas são mais duras e espessas, dificultando o acesso.

Já o Alter do Chão é recoberto por rochas sedimentares formadas por arenito e argilito. O primeiro material possui poros onde a água fica armazenada, permitindo um bombeamento mais fácil. Já o argilito, que fica sobre a água, é um protetor natural, que impede contaminantes de atingirem o aquífero. Ou seja, além de mais fácil de ser retirada, a água do reservatório da Região Norte é mais limpa. "É uma água de muito boa qualidade, que não precisa de estação de tratamento", afirma o geólogo.

Outro aspecto destacado na pesquisa é a espessura do manancial, que vai de 500m a 600m, enquanto a do Guarani tem em média 300m. "Isso quer dizer que temos quase o dobro de água armazenada do Alter do Chão em relação ao Guarani", comenta Matta. Os pesquisadores, no entanto, ainda não determinaram com precisão razoável as profundidades do aquífero do Norte.

Financiamento

Depois dos estudos preliminares, os técnicos preparam um projeto para apresentar ao Banco Mundial e a outros financiadores para viabilizar um levantamento mais detalhado sobre o potencial do aquífero. A intenção é obter dados para comprovar definitivamente que se trata do maior reservatório subterrâneo de água doce do mundo.

O custo desse levantamento está orçado em US$ 5 milhões. Segundo Matta, o valor representa a sexta parte do que foi investido no Aquífero Guarani nos últimos cinco anos.

"Depósitos de águas subterrâneas são reservas estratégicas para mais da metade da população paraense. Eles precisam ser conhecidos para que possam ser usados com sustentabilidade. São um patrimônio inalienável da nação brasileira", justifica o pesquisador. Ele lembra que o Alter do Chão hoje abastece cidades como Manaus e diversos municípios do Pará, como Santarém.

Para o gerente de Águas Subterrâneas da Agência Nacional de Águas (ANA), Fernando Roberto de Oliveira, um estudo sobre o Aquífero Alter do Chão é essencial para o abastecimento brasileiro.

"A Bacia Sedimentar do Amazonas potencialmente comporta grandes aquíferos, sendo que alguns deles podem estar interligados, podendo configurar um grande sistema, sendo inicialmente denominado Sistema Aquífero Amazonas. O Alter do Chão seria um dos aquíferos desse sistema", explica.

Quanto às vantagens oferecidas pelo Alter do Chão, Oliveira afirma que o conhecimento sobre suas dimensões e reservas ainda é pequeno. "Porém, as prospecções iniciais indicam volumes de água armazenados muito elevados, podendo constituir um aquífero estratégico para a região, em que pese a grande disponibilidade de águas superficiais." Oliveira diz que a ANA está preparando edital de licitação para contratar empresa de consultoria para elaborar estudos geológicos sobre o Alter do Chão.

(Sílvia Pacheco)

(Correio Braziliense, 27/4)

65 anos da morte de Hitler

Apelo de Hitler sobrevive 65 anos após sua morte

Culto a líder nazista cruza fronteiras da Europa e cresce em países como Índia e Paquistão

Leda Balbino, iG São Paulo | 30/04/2010 17:48

Apesar de passados 65 anos desde sua morte, Adolf Hitler e seu regime totalitário alemão ainda exercem fascínio sobre muitos. E esse sentimento não se restringe à Europa, onde há movimentos neonazistas e de extrema direita na Alemanha, Áustria, Bélgica, França e outros países. Seu apelo cruzou as fronteiras para locais como sul da Ásia, Turquia e territórios palestinos.

Hitler suicidou-se em 30 de abril de 1945 com uma mordida em uma pílula de cianeto e um disparo contra a têmpora. Ele se matou dentro de um abrigo de concreto construído a cerca de oito metros de profundidade na antiga Chancelaria do Reich (Reino, em alemão), enquanto as forças da então União Soviética cercavam a capital do país, Berlim.

Foto: AP

Líder nazista Adolf Hitler é saudado por soldados em Nuremberg em 2 de setembro de 1933

A morte de Hitler foi anunciada oficialmente em 1º de maio de 1945. Informações de seu quartel-general, porém, sugeriram que ele havia tido uma morte heroica: "Hitler morreu em seu posto de comando na Chancelaria do Reich lutando até o último suspiro contra o bolchevismo (soviético) e pela Alemanha."

Os primeiros detalhes sobre as reais circunstâncias de sua morte surgiram em 20 de junho. Um dos guarda-costas de Hitler que haviam escapado para o lado britânico de Berlim contou ter visto os corpos parcialmente queimados do líder nazista e de sua companheira Eva Braun, com quem havia se casado um dia antes do suicídio, deitados lado a lado perto da entrada do abrigo subterrâneo.

Segundo muitos relatos, os corpos teriam sido retirados do abrigo por nazistas, cobertos por gasolina, queimados e então enterrados. Mais tarde teriam sido transferidos para um local desconhecido para nunca mais serem encontrados.

Neonazimo alemão

Na Alemanha, o movimento de extrema direita atualmente é mais comum no leste do país, que, 20 anos depois da reunificação do país, ainda registra índices sociais e econômicos piores do que as cidades a oeste. A imigração também alimenta a xenofobia.

De acordo com o Ministério do Interior da Alemanha, os incidentes relacionados à extrema direita atingiram seu pico em 2008, com um total de 19.894 casos, um aumento de 5% em relação a 2007. Destes, mais de mil foram violentos, com dois tendo resultado em morte.

O número de incidentes violentos relacionados à extrema direita vem caindo no país, segundo o ministério. Enquanto entre janeiro e outubro de 2008 foram 639 casos, houve 572 no mesmo período de 2009. Além disso, das 12.066 manifestações da extrema direita na Alemanha nos dez primeiros meses de 2009, 8.369 foram propaganda.

De acordo com o Escritório Federal de Proteção da Constituição do país, em 2008 havia na Alemanha 156 organizações de extrema direita, com estimados 30 mil membros. O número, que se manteve o mesmo no ano passado, é menor do que os 38,6 mil membros de 2006.

Mas, apesar da aparente melhora, para muitos os dados continuam alarmantes. “O que me assusta é o ar de normalidade com que esses fatos são registrados ano após ano sem uma resposta adequada”, afirmou o ativista antirracismo Timo Reinfrank à Rádio Free Europe.

Apelo do mito

Nos últimos anos, a obra de Hitler “Mein Kampf” (Minha Luta), que se tornou a "bíblia do nazismo" no Terceiro Reich (1933-1945), alcançou recorde de vendas em mercados como Índia, Turquia e territórios palestinos. Na Alemanha, o Estado da Bavária detém os direitos sobre a obra e sua publicação está proibida até 2015, quando ela cai em domínio público.

Segundo o “Daily Telegraph”, entre outubro de 2008 e abril de 2009 foram vendidos 10 mil volumes do livro só na indiana Nova Délhi, muito pelo interesse de estudantes de negócios que veem o líder nazista como um ícone da estratégia de gerenciamento. "Eles consideram a obra uma história de sucesso de como um homem pode ter uma visão, estabelecer um plano para implementá-la e então ter êxito em colocá-la em prática”, explicou Sohin Lakhani, proprietários da livraria Embassy, com base em Mumbai, ao jornal britânico.

Foto: AP Ampliar

Clientes passam em frente da Cruz de Hitler, restaurante em Kharghar, na Índia

Além da Índia, a obra é popular na Croácia e na Turquia, onde vendeu 100 mil cópias num período de dois meses em 2005. Na Rússia, o livro foi reimpresso três vezes desde que a proibição à sua publicação foi levantada em 1992.

Em uma matéria publicada em março deste ano, o correspondente da revista alemã “Der Spiegel” em Islamabad, Hasnain Kazim, interpreta o culto a Hitler no Paquistão e na Índia como um sinal de que a população local o vê como aquele que desafiou britânicos e americanos.

"Suspeito que a maioria dos indianos e dos paquistaneses não tem a menor ideia do que esse homem fez”, disse Kazim, referindo-se ao extermínio de 6 milhões de judeus durante a 2.ª Guerra Mundial (1937-1945), conflito desencadeado por Hitler que deixou um saldo de 55 milhões de mortos.

“No mundo islâmico, do Paquistão e Irã ao norte da África, o sentimento antissemita obviamente tem um papel. Conversas rapidamente desembocam em comentários sobre a injustiça inflingida contra os palestinos que tiveram suas terras roubadas (quando da formação do Estado de Israel, em 1948)”, completou Kazim.

Segundo ele, porém, não são somente os muçulmanos que mantêm esse culto ao nazismo. Na Índia, um empresário hindu abriu um restaurante chamado “Cruz de Hitler”, cuja entrada é enfeitada com um retrato do líder do Terceiro Reich.

Além do apelo de seu livro, os esboços e aquarelas de Hitler, considerados pelos críticos dignos da nota “C”, atingem altos valores em leilões. Em 24 de abril, uma coleção de 13 peças foi vendida por 95 mil libras (quase US$ 145 mil) no Reino Unido.

*Com BBC