quarta-feira, 2 de fevereiro de 2011

Correios S.A. - um novo modelo de privatização da empresa

Privatização dos Correios
“Esta diretoria é fruto de um acordo dentro do governo para privatizar a empresa e tentar impor uma derrota aos trabalhadores”
Nessa semana a Fentect, Federação Nacional dos Trabalhadores do Correio, solicitou uma reunião com a nova diretoria da ECT, com o objetivo de apresentar oficialmente os novos diretores e discutir o novo Estatuto da empresa. Leia a entrevista com a companheira Anaí Caproni, membro da Coordenação da Corrente Ecetistas em Luta, que esteve presente na reunião

31 de janeiro de 2011
Causa Operária: Porque a Fentect solicitou uma reunião com a nova direção da ECT, realizada no último dia 25?

Anaí Caproni: Porque nos dias seguintes, à realização da reunião com a direção da ECT, aconteceria reunião do Conselho de sindicatos da Federação Nacional dos Trabalhadores do Correio, o chamado Consin, para, justamente, discutir a questão das mudanças do Estatuto da ECT, notícia que tem tido enorme repercussão nacionalmente. A reunião com a empresa foi uma tentativa de obter informações sobre o assunto, uma vez que é vedado aos trabalhadores o fornecimento de documentação legal e informações oficiais sobre o problema. As representações dos trabalhadores, inclusive a maioria daquelas que apóiam o governo, acabam tendo conhecimento das decisões pela Folha de São Paulo.

Causa Operária: Quem esteve presente na reunião?

Anaí Caproni: Toda a direção da Fentect, o presidente da ECT, Wagner Pinheiro; o Diretor de Operações, José Eduardo Xavier, um militar reformado; o diretor de administração, Nelson Luis Oliveira de Freitas; o diretor econômico-financeiro, Luis Mário Lepka, administrador de carreira do Banco Central; além do diretor comercial, José Furian Filho, ex-diretor regional dos Correios em São Paulo; o diretor de gestão de pessoas, Larry Manoel Medeiros de Almeida, ex-diretor regional dos Correios no Rio Grande do Sul; e o diretor de Tecnologia e Infraestrutura, Antonio Luiz Fuchino, administrador de carreira do Banco.
É importante notar que a composição da atual diretoria mostra que a política de ataque aos trabalhadores não só vai continuar, como se ampliou. Os dois diretores que são funcionários de carreira são conhecidos como “linha dura” no trato com a categoria, tanto em São Paulo como no Rio Grande do Sul. Os novos diretores que não são cargos de carreira do próprio Correio são egressos do setor bancário que não prima pela defesa dos interesses dos trabalhadores, pelo contrário, eles foram os precursores da implantação da terceirização dos serviços e do corte de direitos e benefícios dos trabalhadores, além da política de PDV´s para se livrarem dos trabalhadores mais antigos, contratando jovens com salários e benefícios infinitamente menores.

Causa Operária: O que foi discutido na reunião entre a direção da ECT e a direção da Fentect na última terça-feira?

Anaí Caproni: Basicamente foi uma apresentação oficial dos diretores da empresa, mostrando suas qualificações profissionais e seus objetivos, com a tradicional generalidade destas declarações, procurando evitar definições práticas do que efetivamente vão fazer. Na seqüência solicitaram que os membros da Fentect se apresentassem, naquele ritual básico dos manuais de gerenciamento corporativo de recursos humanos, para tentar comprometer os presentes com determinada “etiqueta” e envolvimento pessoal, situação que provoca certo constrangimento em dirigentes sindicais muito moderados ou limitados culturalmente para divergir ou se colocar de forma mais agressiva contra os frenquentes ataques da empresa nas negociações.
Depois das apresentações o presidente da empresa apresentou o que ele considera como pontos principais da atual proposta de novo estatuto da empresa que já está aprovada pela diretoria e foi enviada ao Ministério das Comunicações.
Os representantes dos trabalhadores solicitaram uma cópia da proposta de novo estatuto, a qual foi negada, com o surpreendente argumento de que os advogados precisariam ser consultados sobre a possibilidade de entrega do documento aos trabalhadores.
O próprio argumento mostra a hostilidade com que a direção da ECT encara os trabalhadores e como as mudanças, obviamente, serão contrárias à categoria. A consulta aos advogados se destina a proteger a empresa de eventuais medidas legais e políticas que a Fentect ou os sindicatos dos Correios em todo o país possam tomar para tentar impedir que o atual estatuto seja colocado em prática.
Sobre o próprio estatuto o presidente da ECT, Wagner Pinheiro, afirmou que uma das questões centrais é a possibilidade de que a ECT crie empresas subsidiárias ou participe como sócia em empresas privadas, inclusive na qualidade de sócia minoritária. Obviamente que esta participação será acompanhada da transferência de determinada parcela do monopólio postal para estas empresas ou para as subsidiárias criadas.
Trata-se de uma privatização dos serviços, sem quebra do monopólio e de uma terceirização em massa dos trabalhadores do Correio, obviamente, com enorme demissão de trabalhadores e cortes de direitos.

Causa Operária: Qual sua avaliação da reunião?

Anaí Caproni: A reunião foi curta, porém bastante esclarecedora. É bastante evidente que a nova direção dos Correios não é uma improvisação, como aconteceu nas gestões anteriores durante todo o mandato do governo Lula. Esta diretoria é fruto de um acordo dentro do governo para privatizar a empresa e tentar impor uma derrota aos trabalhadores.
A questão importante é que se bem haja uma estruturação do governo em torno desta política, o governo Dilma Rousseff é bem mais fraco que a administração Lula e as relações com o movimento sindical são infinitamente mais frágeis do que no governo anterior. Também é importante levar em consideração a onda de mobilizações que cresce em todo o mundo, fruto da crise econômica, da elevação da inflação e do descontrole das contas públicas depois da farra financeira dos últimos anos, onde os bancos e grandes empresários ganharam verdadeiras fortunas. No Brasil os efeitos desta política estão cada dia mais claros.
O governo Dilma Rousseff pretende impor uma política extremamente impopular num período de crescimento das mobilizações o que pode comprometer totalmente o sucesso da proposta de privatização da empresa.

Causa Operária: O Conselho de sindicatos da Fentect discutiu esta questão, da mudança dos estatutos?

Anaí Caproni: Sim, houve um intenso debate sobre o assunto. Todos os grupos políticos, inclusive aqueles que apóiam o governo (Articulação-PCdoB) não tem condições de negar que as mudanças pretendidas são um ataque aos trabalhadores. Estão extremamente acuados pelo desgaste político em suas bases, provocado pela política desesperada de assinar um acordo salarial com validade de dois anos [em 2009], para evitar greves durante as eleições [de 2010]. Boa parte destes sindicalistas foi afastada de seus cargos nas diretorias dos sindicatos em que atuavam, não conseguem falar em assembléias, enfrentam eleições com enormes rachas internos ou estão “na geladeira”, utilizando o jargão conhecido, esperando que a categoria esqueça o que aconteceu. No entanto, o governo do qual foram cabos eleitorais e pelo qual se desmoralizaram diante dos trabalhadores mal foi eleito e já têm que enfrentar um ataque destas dimensões e, o que é pior, sem ganhar absolutamente nada, uma vez que o atual governo não tem nenhuma política de contemporização com os sindicalistas, como acontecia com o governo Lula. Nem as Centrais Sindicais são recebidas pela atual presidenta.

Causa Operária: Quais foram as medidas de mobilização adotadas para lutar contra este ataque aos trabalhadores?

Anaí Caproni: Basicamente nenhuma, somente propostas gerais sem nenhum conteúdo efetivo: mobilizações nas bases, audiência pública, semana de mobilização em Brasília entre os dias 22 e 26 [de fevereiro] etc.
Na realidade eles procuraram evitar cuidadosamente aprovar a proposta do Bloco de Oposição, composto por sindicatos do PCO, sindicatos da esquerda do PT e do PSTU-PSol. O Bloco dos 17, como é conhecido, propôs a realização de um ato público dia 24 em frente ao prédio central dos Correios em Brasília com ocupação da empresa contra os novos estatutos, além da convocação de uma plenária nacional de ativistas da categoria em março para discutir a greve geral dos trabalhadores. Também foi proposto um calendário de mobilizações semanais com a realização de atos públicos nos estados e assembléias para organizar a mobilização nacional.
O Bloco dos 17 se reuniu durante o Conselho de Sindicatos e decidiu impulsionar a mobilização, contra a política de paralisar o movimento nacional, enquanto o governo impõe a privatização. Nas próximas semanas deve acontecer nova reunião para avaliação das decisões finais do Consin.

Causa Operária: Quais as conseqüências da política do bloco Articulação-PCdoB para tentar evitar a mobilização?

Anaí Caproni: Os principais diretores da Fentect ligados ao bloco Articulação-PCdoB, os quais impuseram, de forma ilegal, a aprovação do acordo bianual são totalmente repudiados pela categoria. Quem não foi afastado de seu cargo nos sindicatos, não pode falar em assembléias. O PCdoB foi o grupo mais atingido, enfrentando uma enorme divisão interna, uma vez que perderam postos nos sindicatos e, agora, também perderam boa parte dos privilégios no governo. É evidente a desagregação deste partido na base da categoria e na burocracia sindical.
O bloco Articulação-PCdoB não têm condições de dirigir e controlar qualquer mínima mobilização que aconteça contra os planos de privatização do novo governo. Por isso a política de evitar qualquer reunião de ativistas e atividades que não estejam presentes o seleto grupo da própria burocracia.
Está colocada de forma imediata a coordenação pelo Bloco dos 17 de uma iniciativa nacional contra o novo estatuto da ECT e pelas reivindicações dos trabalhadores.

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