quarta-feira, 30 de março de 2011

Invasões e golpes dos EUA pelo mundo

Invasões e golpes dos EUA pelo mundo
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Reproduzo levantamento feito por Alberto da Silva Jones, publicado em 2007 no sítio do Centro de Mídia Independente/Brasil:

Entre as várias invasões que as forças armadas dos Estados Unidos fizeram nos séculos XIX, XX e XXI, podemos citar:

1846/1848 - México - Por causa da anexação, pelos EUA, da República do Texas;

1890 - Argentina - Tropas desembarcam em Buenos Aires para defender interesses econômicos americanos;

1891 - Chile - Fuzileiros Navais esmagam forças rebeldes nacionalistas;

1891 - Haiti - Tropas debelam a revolta de operários negros na ilha de Navassa, reclamada pelos EUA;

1893 - Hawai - Marinha enviada para suprimir o reinado independente e anexar o Hawaí aos EUA;

1894 - Nicarágua - Tropas ocupam Bluefields, cidade do mar do Caribe, durante um mês;

1894/1895 - China - Marinha, Exército e Fuzileiros desembarcam no país durante a guerra sino-japonesa;

1894/1896 - Coréia - Tropas permanecem em Seul durante a guerra;

1895 - Panamá - Tropas desembarcam no porto de Corinto, província Colombiana;

1898/1900 - China - Tropas ocupam a China durante a Rebelião Boxer;

1898/1910 - Filipinas - Luta pela independência do país, dominado pelos EUA (Massacres realizados por tropas americanas em Balangica, Samar, 27/09/1901, e Bud Bagsak, Sulu, 11/15/1913; 600.000 filipinos mortos;

1898/1902 - Cuba - Tropas sitiaram Cuba durante a guerra hispano-americana;

1898 - Porto Rico - Tropas sitiaram Porto Rico na guerra hispano-americana, hoje 'Estado Livre Associado' dos Estados Unidos;

1898 - Ilha de Guam - Marinha desembarca na ilha e a mantêm como base naval até hoje;

1898 - Espanha - Guerra Hispano-Americana - Desencadeada pela misteriosa explosão do encouraçado Maine, em 15 de fevereiro, na Baía de Havana. Esta guerra marca o surgimento dos EUA como potência capitalista e militar mundial;

1898 - Nicarágua - Fuzileiros Navais invadem o porto de San Juan del Sur;

1899 - Ilha de Samoa - Tropas desembarcam e invadem a Ilha em conseqüência de conflito pela sucessão do trono de Samoa;

1899 - Nicarágua - Tropas desembarcam no porto de Bluefields e invadem a Nicarágua (2ª vez);

1901/1914 - Panamá - Marinha apóia a revolução quando o Panamá reclamou independência da Colômbia; tropas americanas ocupam o canal em 1901, quando teve início sua construção;

1903 - Honduras - Fuzileiros Navais desembarcam em Honduras e intervêm na revolução do povo hondurenho;

1903/1904 - República Dominicana - Tropas atacaram e invadiram o território dominicano para proteger interesses do capital americano durante a revolução;

1904/1905 - Coréia - Fuzileiros Navais dos Estados Unidos desembarcaram no território coreano durante a guerra russo-japonesa;

1906/1909 - Cuba -Tropas dos Estados Unidos invadem Cuba e lutam contra o povo cubano durante período de eleições;

1907 - Nicarágua - Tropas invadem e impõem a criação de um protetorado, sobre o território livre da Nicarágua;

1907 - Honduras - Fuzileiros Navais desembarcam e ocupam Honduras durante a guerra de Honduras com a Nicarágua;

1908 - Panamá - Fuzileiros invadem o Panamá durante período de eleições;

1910 - Nicarágua - Fuzileiros navais desembarcam e invadem pela 3ª vez Bluefields e Corinto, na Nicarágua;

1911 - Honduras - Tropas enviadas para proteger interesses americanos durante a guerra civil invadem Honduras;

1911/1941 - China - Forças do exército e marinha dos Estados Unidos invadem mais uma vez a China durante período de lutas internas repetidas;

1912 - Cuba - Tropas invadem Cuba com a desculpa de proteger interesses americanos em Havana;

1912 - Panamá - Fuzileiros navais invadem novamente o Panamá e ocupam o país durante eleições presidenciais;

1912 - Honduras - Tropas norte americanas mais uma vez invadem Honduras para proteger interesses do capital americano;

1912/1933 - Nicarágua - Tropas dos Estados Unidos com a desculpa de combaterem guerrilheiros invadem e ocupam o país durante 20 anos;

1913 - México - Fuzileiros da Marinha invadem o México com a desculpa de evacuar cidadãos americanos durante a revolução;

1913 - México - Durante a revolução mexicana, os Estados Unidos bloqueiam as fronteiras mexicanas;

1914/1918 - Primeira Guerra Mundial - EUA entram no conflito em 6 de abril de 1917 declarando guerra à Alemanha. As perdas americanas chegaram a 114 mil homens;

1914 - República Dominicana - Fuzileiros navais da Marinha dos Estados invadem o solo dominicano e interferem na revolução em Santo Domingo;

1914/1918 - México - Marinha e exército invadem o território mexicano e interferem na luta contra nacionalistas;

1915/1934 - Haiti - Tropas americanas desembarcam no Haiti, em 28 de julho, e transformam o país numa colônia americana, permanecendo lá durante 19 anos;

1916/1924 - República Dominicana - Os EUA invadem e estabelecem governo militar na República Dominicana, em 29 de novembro, ocupando o país durante oito anos;

1917/1933 - Cuba - Tropas desembarcam em Cuba e transformam o país num protetorado econômico americano, permanecendo essa ocupação por 16 anos;

1918/1922 - Rússia - Marinha e tropas enviadas para combater a revolução bolchevista. O Exército realizou cinco desembarques, sendo derrotado pelos russos em todos eles;

1919 - Honduras - Fuzileiros desembarcam e invadem mais uma vez o país durante eleições, colocando no poder um governo a seu serviço;

1918 - Iugoslávia - Tropas dos Estados Unidos invadem a Iugoslávia e intervêm ao lado da Itália contra os sérvios na Dalmácia;

1920 - Guatemala - Tropas invadem e ocupam o país durante greve operária do povo da Guatemala;

1922 - Turquia - Tropas invadem e combatem nacionalistas turcos em Smirna;

1922/1927 - China - Marinha e Exército mais uma vez invadem a China durante revolta nacionalista;

1924/1925 - Honduras - Tropas dos Estados Unidos desembarcam e invadem Honduras duas vezes durante eleição nacional;

1925 - Panamá - Tropas invadem o Panamá para debelar greve geral dos trabalhadores panamenhos;

1927/1934 - China - Mil fuzileiros americanos desembarcam na China durante a guerra civil local e permanecem durante sete anos ocupando o território;

1932 - El Salvador - Navios de Guerra dos Estados Unidos são deslocados durante a revolução das Forças do Movimento de Libertação Nacional - FMLN -
comandadas por Marti;

1939/1945 - II Guerra Mundial - Os EUA declaram guerra ao Japão em 8 de dezembro de 1941 e depois a Alemanha e Itália, invadindo o Norte da África, a Ásia e a Europa, culminando com o lançamento das bombas atômicas sobre as cidades desmilitarizadas de Iroshima e Nagasaki;

1946 - Irã - Marinha americana ameaça usar artefatos nucleares contra tropas soviéticas caso as mesmas não abandonem a fronteira norte do Irã;

1946 - Iugoslávia - Presença da marinha ameaçando invadir a zona costeira da Iugoslávia em resposta a um avião espião dos Estados Unidos abatido pelos soviéticos;

1947/1949 - Grécia - Operação de invasão de Comandos dos EUA garantem vitória da extrema direita nas "eleições" do povo grego;

1947 - Venezuela - Em um acordo feito com militares locais, os EUA invadem e derrubam o presidente eleito Rómulo Gallegos, como castigo por ter aumentado o preço do petróleo exportado, colocando um ditador no poder;

1948/1949 - China - Fuzileiros invadem pela ultima vez o território chinês para evacuar cidadãos americanos antes da vitória comunista;

1950 - Porto Rico - Comandos militares dos Estados Unidos ajudam a esmagar a revolução pela independência de Porto Rico, em Ponce;

1951/1953 - Coréia - Início do conflito entre a República Democrática da Coréia (Norte) e República da Coréia (Sul), na qual cerca de 3 milhões de pessoas morreram. Estados Unidos são um dos principais protagonistas da invasão usando como pano de fundo a recém criada Nações Unidas, ao lado dos sul-coreanos. A guerra termina em julho de 1953 sem vencedores e com dois estados polarizados: comunistas ao norte e um governo pró-americano no sul. Os EUA perderam 33 mil homens e mantém até hoje base militar e aero-naval na Coréia do Sul;

1954 - Guatemala - Comandos americanos, sob controle da CIA, derrubam o presidente Arbenz, democraticamente eleito, e impõem uma ditadura militar no país. Jacobo Arbenz havia nacionalizado a empresa United Fruit e impulsionado a reforma agrária;

1956 - Egito - O presidente Nasser nacionaliza o canal de Suez. Tropas americanas se envolvem durante os combates no Canal de Suez sustentados pela Sexta Frota dos EUA. As forças egípcias obrigam a coalizão franco-israelense-britânica, a retirar-se do canal;

1958 - Líbano - Forças da Marinha invadem apóiam o exército de ocupação do Líbano durante sua guerra civil;

1958 - Panamá - Tropas dos Estados Unidos invadem e combatem manifestantes nacionalistas panamenhos;

1961/1975 - Vietnã. Aliados ao sul-vietnamitas, o governo americano invade o Vietnã e tenta impedir, sem sucesso, a formação de um estado comunista, unindo o sul e o norte do país. Inicialmente a participação americana se restringe a ajuda econômica e militar (conselheiros e material bélico). Em agosto de 1964, o congresso americano autoriza o presidente a lançar os EUA em guerra. Os Estados Unidos deixam de ser simples consultores do exército do Vietnã do Sul e entram num conflito traumático, que afetaria toda a política militar dali para frente. A morte de quase 60 mil jovens americanos e a humilhação imposta pela derrota do Sul em 1975, dois anos depois da retirada dos Estados Unidos, moldou a estratégia futura de evitar guerras que impusessem um custo muito alto de vidas americanas e nas quais houvesse inimigos difíceis de derrotar de forma convencional, como os vietcongues e suas táticas de guerrilhas;

1962 - Laos - Militares americanos invadem e ocupam o Laos durante guerra civil contra guerrilhas do Pathet Lao;

1964 - Panamá - Militares americanos invadiram mais uma vez o Panamá e mataram 20 estudantes, ao reprimirem a manifestação em que os jovens queriam trocar, na zona do canal, a bandeira americana pela bandeira de seu país;

1965/1966 - República Dominicana - Trinta mil fuzileiros e pára-quedistas desembarcaram na capital do país, São Domingo, para impedir a nacionalistas panamenhos de chegarem ao poder. A CIA conduz Joaquín Balaguer à presidência, consumando um golpe de estado que depôs o presidente eleito Juan Bosch. O país já fora ocupado pelos americanos de 1916 a 1924;

1966/1967 - Guatemala - Boinas Verdes e marines invadem o país para combater movimento revolucionário contrário aos interesses econômicos do capital americano;

1969/1975 - Camboja - Militares americanos enviados depois que a Guerra do Vietnã invadem e ocupam o Camboja;

1971/1975 - Laos - EUA dirigem a invasão sul-vietnamita bombardeando o território do vizinho Laos, justificando que o país apoiava o povo vietnamita em sua luta contra a invasão americana;

1975 - Camboja - 28 marines americanos são mortos na tentativa de resgatar a tripulação do petroleiro estadunidense Mayaquez;

1980 - Irã - Na inauguração do estado islâmico formado pelo Aiatolá Khomeini, estudantes que haviam participado da Revolução Islâmica do Irã ocuparam a embaixada americana em Teerã e fizeram 60 reféns. O governo americano preparou uma operação militar surpresa para executar o resgate, frustrada por tempestades de areia e falhas em equipamentos. Em meio à frustrada operação, oito militares americanos morreram no choque entre um helicóptero e um avião. Os reféns só seriam libertados um ano depois do seqüestro, o que enfraqueceu o então presidente Jimmy Carter e elegeu Ronald Reagan, que conseguiu aprovar o maior orçamento militar em época de paz até então;

1982/1984 - Líbano - Estados Unidos invadiram o Líbano e se envolveram nos conflitos no país logo após a invasão por Israel - e acabaram envolvidos na guerra civil que dividiu o país. Em 1980, os americanos supervisionaram a retirada da Organização pela Libertação da Palestina de Beirute. Na segunda intervenção, 1.800 soldados integraram uma força conjunta de vários países, que deveriam restaurar a ordem após o massacre de refugiados palestinos por libaneses aliados a Israel. O custo para os americanos foi a morte 241 fuzileiros navais, quando os libaneses explodiram um carro bomba perto de um quartel das forças americanas;

1983/1984 - Ilha de Granada - Após um bloqueio econômico de quatro anos a CIA coordena esforços que resultam no assassinato do 1º Ministro Maurice Bishop. Seguindo a política de intervenção externa de Ronald Reagan, os Estados Unidos invadiram a ilha caribenha de Granada alegando prestar proteção a 600 estudantes americanos que estavam no país, as tropas eliminaram a influência de Cuba e da União Soviética sobre a política da ilha;

1983/1989 - Honduras - Tropas enviadas para construir bases em regiões próximas à fronteira invadem o Honduras;

1986 - Bolívia - Exército invade o território boliviano na justificativa de auxiliar tropas bolivianas em incursões nas áreas de cocaína;

1989 - Ilhas Virgens - Tropas americanas desembarcam e invadem as ilhas durante revolta do povo do país contra o governo pró-americano;

1989 - Panamá - Batizada de Operação Causa Justa, a intervenção americana no Panamá foi provavelmente a maior batida policial de todos os tempos: 27 mil soldados ocuparam a ilha para prender o presidente panamenho, Manuel Noriega, antigo ditador aliado do governo americano. Os Estados Unidos justificaram a operação como sendo fundamental para proteger o Canal do Panamá, defender 35 mil americanos que viviam no país, promover a democracia e interromper o tráfico de drogas, que teria em Noriega seu líder na América Central. O ex-presidente cumpre prisão perpétua nos Estados Unidos.

1990 - Libéria - Tropas invadem a Libéria justificando a evacuação de estrangeiros durante guerra civil;

1990/1991 - Iraque - Após a invasão do Iraque ao Kuwait, em 2 de agosto de 1990, os Estados Unidos, com o apoio de seus aliados da Otan, decidem impor um embargo econômico ao país, seguido de uma coalizão anti-Iraque (reunindo além dos países europeus membros da Otan, o Egito e outros países árabes) que ganhou o título de "Operação Tempestade no Deserto". As hostilidades começaram em 16 de janeiro de 1991, um dia depois do fim do prazo dado ao Iraque para retirar tropas do Kuwait. Para expulsar as forças iraquianas do Kuwait, o então presidente George Bush destacou mais de 500 mil soldados americanos para a Guerra do Golfo;

1990/1991 - Arábia Saudita - Tropas americanas destacadas para ocupar a Arábia Saudita que era base militar na guerra contra Iraque;

1992/1994 - Somália - Tropas americanas, num total de 25 mil soldados, invadem a Somália como parte de uma missão da ONU para distribuir mantimentos para a população esfomeada. Em dezembro, forças militares norte-americanas (comando Delta e Rangers) chegam a Somália para intervir numa guerra entre as facções do então presidente Ali Mahdi Muhammad e tropas do general rebelde Farah Aidib. Sofrem uma fragorosa derrota militar nas ruas da capital do país;

1993 - Iraque - No início do governo Clinton é lançado um ataque contra instalações militares iraquianas em retaliação a um suposto atentado, não concretizado, contra o ex-presidente Bush, em visita ao Kuwait;

1994/1999 - Haiti - Enviadas pelo presidente Bill Clinton, tropas americanas ocuparam o Haiti na justificativa de devolver o poder ao presidente eleito Jean-Betrand Aristide, derrubado por um golpe, mas o que a operação visava era evitar que o conflito interno provocasse uma onda de refugiados haitianos nos Estados Unidos;

1996/1997 - Zaire (ex-República do Congo) - Fuzileiros Navais americanos são enviados para invadir a área dos campos de refugiados Hutus;

1997 - Libéria - Tropas dos Estados Unidos invadem a Libéria justificando a necessidade de evacuar estrangeiros durante guerra civil sob fogo dos rebeldes;

1997 - Albânia - Tropas invadem a Albânia para evacuar estrangeiros;

2000 - Colômbia - Marines e "assessores especiais" dos EUA iniciam o Plano Colômbia, que inclui o bombardeamento da floresta com um fungo transgênico fusarium axyporum (o "gás verde");

2001 - Afeganistão - Os EUA bombardeiam várias cidades afegãs, em resposta ao ataque terrorista ao World Trade Center em 11 de setembro de 2001. Invadem depois o Afeganistão onde estão até hoje;

2003 - Iraque - Sob a alegação de Saddam Hussein esconder armas de destruição e financiar terroristas, os EUA iniciam intensos ataques ao Iraque. É batizada pelos EUA de "Operação Liberdade do Iraque" e por Saddam de "A Última Batalha", a guerra começa com o apoio apenas da Grã-Bretanha, sem o endosso da ONU e sob protestos de manifestantes e de governos no mundo inteiro. As forças invasoras americanas até hoje estão no território iraquiano, onde a violência aumentou mais do que nunca.


* Na América Latina, África e Ásia, os Estados Unidos invadiam países ou para depor governos democraticamente eleitos pelo povo, ou para dar apoio a ditaduras criadas e montadas pelos Estados Unidos, tudo em nome da "democracia" (deles).

Libia: duas guerras

*Líbia: as duas guerras*

Existe uma grande simpatia dos ativistas em todo o mundo pela revolução
árabe contra ditaduras pró-imperialistas oprimem estes países há décadas.
Mas em relação à Líbia existe uma grande confusão. É ou não parte do mesmo
processo? E agora, com a invasão imperialista, de que lado se posicionar?

A primeira confusão acontece porque as correntes stalinistas e chavistas
tentam de todas as maneiras convencer que a rebelião do povo líbio é falsa e
que Khadafi é um lutador antiimperialista. Com os métodos típicos do
stalinismo, tentam convencer a todos que a Líbia não é parte do mesmo
processo árabe.

A realidade entra pela janela, pelas portas, pelo teto: basta ver as
noticias das milícias de trabalhadores e jovens nas cidades rebeladas contra
Khadafi, para ver a falsidade dos stalinistas. É a mesma efervescência da
praça Tahrir do Egito, que teve de se armar para enfrentar um genocida. É o
que aconteceria no Egito, caso o exército tivesse reprimido a revolução. É o
que pode acontecer no Iêmem e no Bahrein, caso a repressão violenta (apoiada
pelo imperialismo) siga.

Na verdade, Castro e Chavez confundem deliberadamente o Khadafi de quarenta
anos atrás e o atual. Ele liderou um golpe militar em 69 que derrubou a
monarquia e na nacionalizou o petróleo, tendo seguidos choques com o
imperialismo. Já na década de 90, teve um brutal giro a direita, entregando
o petróleo líbio para a Shell, British Petroleun, ENI (italiana) e Total
(francesa). Tornou-se um grande burguês, com negócios diretos com as
multinacionais. Por exemplo, possui 10% das ações da FIAT e 7% do banco
italiano Unicredit. Passou a ser recebido com festas pelos governos
europeus, como no ano passado, com Sarcozy e Berlusconi.

Khadafi teve um percurso semelhante ao de outras correntes nacionalistas
burguesas que capitularam completamente ao imperialismo, como o nasserismo e
o peronismo. O Khadafi de hoje não é igual ao Perón que nacionalizou as
ferrovias inglesas, mas ao peronista Menen que implantou o neoliberalismo.
Não é igual ao Nasser que nacionalizou o canal de Suez, mas a Mubarak.

A revolução em curso na Líbia é , portanto, muito semelhante às que estão
ocorrendo em todo o mundo árabe. Mas apresenta também algumas diferenças
importantes. A primeira é que Khadafi reagiu com uma repressão sangrenta,
utilizando métodos semifascistas semelhantes aos de Israel, bombardeando
populações civis com aviões. Por esse motivo, a revolução tomou o rumo de
uma guerra civil.

Ficará registrado para sempre na história que Castro e Chavez mantiveram o
apoio a Khadafi nessa guerra civil. Sustentaram diretamente a repressão e o
genocídio do povo, sujando suas mãos com o sangue líbio.

*E agora com a intervenção imperialista?*

A segunda diferença é a intervenção militar direta do imperialismo na
região.

Isso provocou outro tipo de confusão. E agora, o que fazer? Essa é a
pergunta que os ativistas se fazem. A maioria está de acordo em que é
equivocado apoiar Khadafi. Mas a discussão ficou muito mais confusa depois
da intervenção militar do imperialismo. Isso não daria razão aos que apóiam
Khadafi?

Não, não dá. O imperialismo não intervém porque Khadafi é antimperialista.
Ele entregou todo o petróleo. Muito menos porque Khadafi é um ditador, já
que estão apoiando nesse momento a mesma repressão no Bahrein.

O motivo para a intervenção é porque o imperialismo quer se apropriar
diretamente do petróleo e estabelecer uma zona controlada no meio da
revolução árabe. Não confia mais em Khadafi, porque não acredita que ele
possa reestabilizar a região, mesmo que consiga uma vitória militar. É muito
provável que, se isso ocorresse, a enorme oposição ao ditador resultasse em
uma guerrilha de massas.

Mas, como então se posicionar em meio a revolução do povo líbio contra
Khadafi e a intervenção militar imperialista? Não seria o caso de deixar de
lado a luta contra Khadafi e centrar na batalha contra o imperialismo?

Não. Existem duas guerras, uma contra Khadafi e outra contra o imperialismo.
Não se pode resumir a complexidade do problema líbio apenas a uma das
guerras, sob pena de uma capitulação grosseira ao imperialismo ou a Khadafi.

Nada melhor para discutir a correção de uma posição política do que baixá-la
para a realidade concreta. Imaginem só a situação hoje- no dia em que está
sendo escrito esse artigo- de um grupo de militantes revolucionários em
Bengazhi ou Misrata, bastiões do povo rebelado. Eles não podem deixar de
lutar contra Khadafi, que manteve os ataques contra essas duas cidades
matando 90 pessoas. As duas guerras são bem concretas e reais.

Seria necessária uma unidade de ação com Khadafi contra o imperialismo? Em
termos abstratos sim, mas isso é impossível política e militarmente. O
grande obstáculo é o próprio Khadafi. Politicamente é impossível pelo ódio
causado na ampla maioria das massas líbias pelo genocida Khadafi. Em termos
militares é impossível pela continuidade da agressão das forças do ditador.
Por isso, a necessidade das duas guerras.

Aqueles que defendem unicamente o repúdio a intervenção do imperialismo,
calando sobre Khadafi estão situados no campo político e militar desse
genocida. São cúmplices dos massacres do Mubarak líbio.

Por outro lado, a necessidade da guerra também contra o imperialismo leva ao
necessário enfrentamento com a direção do Conselho Nacional Líbio, que se
auto apresenta como representante do levante contra Khadafi. Esse Conselho
está apoiando a ação militar imperialista. Essa é uma atitude traidora da
causa árabe por abrir as portas para que o imperialismo de recupere do duro
golpe que está sofrendo com a derrubada das ditaduras na região. Um
território dominado pelas tropas da ONU será um bastião contra toda a
revolução árabe.

É fundamental que os lutadores em Bengazhi e outros territórios liberados
retomem a atitude antiimperialista que existia na área antes da
contra-ofensiva de Khadafi. Não se pode aceitar a atitude desse Conselho,
praticamente de uma unidade de ação com o imperialismo. Os governos
imperialistas têm como objetivo acabar com a revolução árabe.Assim que
puderem, as armas norte-americanas e européias vão se virar contra as
milícias armadas da oposição.

sábado, 26 de março de 2011

Crise industrial no Japão depois da tragédia

Recuperação de montadoras do Japão vai levar meses

25/3/2011 12:39,  Por redação, com Reuters - de Tóquio
A produção perdida nas duas semanas desde o terremoto e tsunami que atingiram o nordeste do Japão soma cerca de 330 mil veículos e o setor pode levar meses, não semanas, para se recuperar.
Antes do desastre, a indústria de veículos do Japão, estava começando a se recuperar da crise financeira que afetou a indústria mundial de veículos
Veículos atuais são produzidos com até 30 mil peças, 70% a 80% das quais são fornecidas por centenas de fabricantes. Um único parafuso em falta pode suspender linhas de montagem e criar uma reação em cadeia no famoso processo de manufatura “just in time” adotado pelas empresas.
Com cerca de 500 empresas de autopeças afetadas pelo desastre no nordeste do país, o que cortou a oferta de componentes eletrônicos, produtos de resina e outras peças, a indústria de veículos do Japão está especialmente vulnerável a uma ruptura da cadeia de suprimentos.
- Estamos em um estágio em que somente podemos ter esperança de termos uma melhora incremental – afirmou o analista do setor de veículos do Deutsche Bank, Kurt Sanger, que previu que uma retomada de operações normais deve levar meses para acontecer.
Antes do desastre, a indústria de veículos do Japão, que movimenta 700 bilhões de dólares, estava começando a se recuperar da brutal crise financeira que afetou a indústria mundial de veículos. Fabricantes estavam cortando custos e também ampliando produção no exterior para enfrentarem a valorização do iene.
O terremoto de 11 de março danificou uma fábrica da Renesas Electronics, uma grande fornecedora de unidades automotivas de micro controles. Cerca de um quinto da produção global de automóveis depende dos produtos da fábrica da Renesas em Naka, estima o Deutsche Bank.
Quando o terremoto de 2007 danificou uma fábrica da Riken Corp, maior fornecedora de anéis de pistão do Japão, todas as 12 montadoras de automóveis e caminhões do Japão tiveram de parar por três dias.
No pior cenário, a produção mundial de veículos pode despencar 30%  de seis semanas por causa da falta de autopeças provocada pelo terremoto japonês, alerta a empresa de pesquisa IHS Automotive.
- É uma situação completamente sem precedentes -  disse o analista Tatsuo Yoshida, do UBS.
As montadoras do Japão ainda estão fabricando veículos no exterior com os estoques de peças que possuem, mas eles podem acabar em breve. A Toyota já alertou esta semana trabalhadores e concessionárias na América do Norte de que a produção pode desacelerar.
No Japão, o setor está praticamente paralisado desde o tremor, e montadoras incluindo Toyota, Nissan Motor e Honda estão tendo que divulgar quase que diariamente alertas sobre seus planos de produção.
- É muito, muito difícil de prever quando vamos poder retomar a produção – disse o porta-voz da Nissan, Toshitake Inoshita.

quinta-feira, 24 de março de 2011

Grupo da Marina Silva que fundar o PV do B

Vem aí o PV do B

Celso Marcondes 21 de março de 2011 às 9:16h
Reunião da Executiva Nacional anuncia o “racha”. À Marina Silva e seu grupo foi dito: a porta de saída é serventia da casa
Passados apenas alguns meses da expressiva votação recebida por Marina Silva nas eleições presidências, o Partido Verde já decreta sua divisão. Não pode ser outra a leitura do resultado da reunião da Executiva Nacional do partido realizada na última quinta-feira 17.
Por 29 votos a 16 foi aprovada resolução apresentada pelo deputado José Sarney Filho (MA), prorrogando o mandato da atual direção, comandada pelo deputado José Luiz Penna (SP), por mais um ano.
A decisão foi um soco no estômago do grupo liderado por Marina Silva, que desde que aderiu ao PV, no final de 2009, nutria a ilusão de “reformá-lo por dentro”. Na reunião da semana passada, a proposta do deputado maranhense foi apresentada logo em seguida a uma longa explanação do deputado federal Alfredo Sirkis (RJ), vice-presidente da legenda.
Integrante do grupo de Marina, Sirkis propunha uma detalhada agenda de atividades para o partido e levava em conta que seria mantido para este ano o calendário que determinava a realização de uma convenção para a renovação da direção partidária.
Penna, presidente do partido já há doze anos, articulou-se primeiro e surpreendeu seus adversários internos. A ex-senadora – que reagiu com indignação à proposta – ainda teve que passar pelo constrangimento de ouvir uma indesejável comparação com o ex-futebolista Ronaldo: “a era dos fenômenos acabou”, afirmou um dos defensores de Penna, ao lembrar que o sucesso eleitoral de Marina não tinha resultado no crescimento da bancada verde na Câmara.
O artigo publicado por Sirkis em seu blog e aqui republicado dá toda a dimensão da gravidade da crise. Impossível lê-lo sem concluir que as malas de Marina e Sirkis começaram a ser arrumadas. Junto com eles devem partir Guilherme Leal, Fernando Gabeira, Ricardo Young, Sérgio Xavier, João Paulo Capobianco, Luciano Zica, Marco Mroz e Mauricio Bruzadim, entre outros.
Como as eleições de 2012 batem às portas, vem aí o PV do B. Com Penna e Sarney Filho, fica o PV. A amargar também as perdas que deve contabilizar em sua bancada para o PSD (ex-quase PDB) de Gilberto Kassab, hoje nas bancas.
Um caso explícito de autofagia verde. O cineasta Fernando Meirelles, apoiador efusivo da candidatura de Marina à presidência, pode liberar o uso do título do seu “Ensaio sobre a Cegueira” para a resolução aprovada pela direção do partido.

Celso Marcondes

Celso Marcondes é jornalista, editor do site e diretor de Planejamento de CartaCapital. celso@cartacapital.com.br
http://www.cartacapital.com.br/politica/vem-ai-o-pv-do-b

Festa do caboclo: um olhar etnográfico

Festa do caboclo: um olhar etnográfico

Festa de Caboclo: um olhar etnográfico, por Luciano Leal da Costa Lima e Marco Antônio Domingues Teixeira.

Nossa proposta nesse artigo é refletir sobre os mais diversos elementos apresentados numa festa de Caboclo, especificamente à solenidade umbandista em homenagem à entidade chamada de “Caboclo Tupi”. Apesar de sua ligação sincrética com o catolicismo, a festa mantem viva a origem nativa, os preceitos e o modo de encarar a espiritualidade do índio, em meio a tudo que lhe foi imposto. Nesse breve olhar etnográfico, apresenta-se o espaço e seus significados, a festa e a sua ritualidade, além das cantigas e das representações criadas no individuo em torno da entidade do Caboclo Tupi.

http://www.historiaehistoria.com.br/materia.cfm?tb=artigos&id=152

Nos EUA, violadores de indígenas

En Estados Unidos, una de cada tres indígenas es violentada sexualmente a lo largo de su vida. Los agresores, mayoritariamente blancos, que ingresan a los territorios indios para abusar de niñas y mujeres gozan de impunidad. La justicia estadunidense no concede potestad a las autoridades de los pueblos nativos para juzgar por delitos cometidos a personas que no pertenecen a las tribus.

http://contralinea.info/archivo-revista/index.php/2011/03/24/en-estados-unidos-violadores-de-indigenas-impunes/?home

quarta-feira, 16 de março de 2011

Kassab inquienta os partidos políticos

Estratégia de Kassab cria inquietação em partidos

15/3/2011 13:11,  Por redação, com Reuters - de São Paulo
A movimentação do prefeito de São Paulo, Gilberto Kassab (DEM), em busca de espaço para se candidatar ao governo paulista e com provável adesão à base do governo Dilma Rousseff tem o efeito de uma bola desgovernada atingindo obstáculos variados.
Kassab, deve anunciar nos próximos dias sua saída do Democratas e o lançamento do Partido da Democracia Brasileira (PDB)
Mesmo vindo de um partido oposicionista e de perfil conservador, o prefeito será bem aceito pela principal sigla da base, o PT, segundo decisão de cúpula da sigla.
- Se o prefeito rompe com o DEM e o PSDB vindo para a base, claro que é um movimento bem-vindo. O PT vê com bons olhos – afirmou à Reuters o presidente do PT-SP, Edinho Silva.
Essa é a posição oficial do PT, que foi aprovada pelo diretório paulista. Pesou na decisão o fato de o prefeito ter expressado pessoalmente ao presidente do PT-SP seu desejo de se alinhar ao governo federal.
Aos petistas críticos a esta aliança heterodoxa, Edinho alerta: “Qualquer posição diferente é pessoal”.
O dirigente vai logo afirmando que o posicionamento do PT não se estende a qualquer aliança para as eleições no Estado.
- Não tem discussão eleitoral envolvida nisso. Se ele quer vir para a base do governo Dilma não significa compromisso eleitoral do PT com ele – frisou.
Kassab, vitrine do DEM até agora, deve anunciar nos próximos dias sua saída do Democratas e o lançamento do Partido da Democracia Brasileira (PDB).
Com a adesão a uma nova legenda, como prevê a lei, Kassab procura escapar de um processo de infidelidade partidária por parte do DEM. Se trocasse para uma legenda existente, o Democratas poderia requisitar o mandato na Justiça.
Em uma segunda etapa, o PDB poderia se fundir ao PSB. O advogado Alberto Rollo, um dos especialistas que formataram o novo partido a pedido de Kassab, recomendou ao prefeito que mantenha a independência da nova legenda e apenas faça coligações com o PSB, garantindo o horário eleitoral de TV.
- Coligação vale até o fim da eleição, depois o partido volta a ficar sozinho. Para não dizerem que ele está criando um partido que é um partido de passagem, um trampolim – afirmou.
O PMDB também esteve entre as opções de Kassab. O vice-presidente da República, Michel Temer, presidente licenciado da legenda, manteve conversas com o prefeito neste início de ano, abrindo as portas da sigla para ele. Ofereceu inclusive apoio para uma futura candidatura, segundo um auxiliar do PMDB.
Para o PMDB-SP, a ida de Kassab para a legenda agiria como um reforço local, principalmente após a morte do ex-governador Orestes Quércia em dezembro, que comandava a legenda no Estado. Mas a partir do momento em que a opção do prefeito passou a ser uma aliança com o PSB, a aproximação esfriou.
Diretamente, Kassab admitiu apenas que foi convidado para se juntar ao PSB e ao PMDB e que considerava “deselegante” discutir o tema em público antes da convenção extraordinária do DEM agendada para esta terça-feira em Brasília.
O DEM, que vem perdendo espaço nas últimas eleições, trocará a presidência elegendo o senador José Agripino (RN), mas há poucas chances de o novo dirigente conseguir segurar Kassab, segundo parlamentares.
O deputado Onyx Lorenzoni (DEM-RS) não mediu palavras ao criticar a decisão do companheiro de legenda. Em pronunciamento da tribuna da Câmara dos Deputados, disse que a saída de Kassab tem como meta receber benefícios do governo.
- Aí vem o PDB, o partido da boquinha, para pegar uma teta gorda do governo federal – disse Lorenzoni.
As críticas também vêm da academia. O cientista político Fabio Wanderley Reis viu no expediente de Kassab apenas o interesse pessoal, ignorando o vínculo partidário.
- O que motiva é o cálculo político pessoal, a abertura do espaço pessoal, independentemente do partido – analisa o professor da UFMG, centrando a questão na diferença ideológica entre o Democratas e a base do governo.
Adesões ao PDB
Tendo que obter a assinatura de quase 500 mil eleitores em nove unidades federativas para criar um novo partido, Kassab deve atrair políticos como Guilherme Afif Domingos (DEM), vice-governador de São Paulo, e Otto Alencar (PP), vice-governador da Bahia, além de deputados. A senadora Katia Abreu (DEM-TO), combativa na oposição, mas que se manifestou a favor do projeto do salário mínimo de Dilma em fevereiro, também deve migrar.
Aderindo ao PSB, comandado pelo governador de Pernambuco, Eduardo Campos, fiel aliado do Planalto, Kassab retribuirá à legenda com a ampliação de sua influência em São Paulo, ainda tímida. O Estado é importante base para um projeto de candidatura à Presidência, como se especula para Campos.
Muito provavelmente o PSB perderá o empresário Paulo Skaf, presidente da Federação das Indústrias do Estado de São Paulo (Fiesp), que se candidatou pela legenda ao governo paulista em 2010. Skaf pode vir a ter interesse novamente pelo cargo em 2014, quando a legenda estará ao lado de Kassab. Também há vozes descontentes vindas da deputada Luiz Erundina (SP) e do deputado Gabriel Chalita (SP) que ameaçam deixar o PSB caso ela promova a fusão com o PDB.
A tática de Kassab esbarra ainda no governador Geraldo Alckmin (PSDB) que muito provavelmente será candidato à reeleição. Quem ficou em silêncio sobre o caso foi o ex-governador José Serra (PSDB), adversário do Planalto e mentor de Kassab, que assumiu a prefeitura em 2006 quando o tucano deixou o posto para se candidatar ao governo paulista. Em 2008, Kassab foi eleito para o cargo. O secretário da Casa Civil do governo paulista, Sidney Beraldo, declarou que o PSDB vai se empenhar para evitar que o novo partido se alie à base do governo federal.

DEM sofre a maior crise de sua história e critica Kassab (fundador do PDB)

DEM, na pior crise desde o extinto PFL, acusa o golpe e Agripino Maia espeta Kassab

15/3/2011 14:15,  Por Redação - de Brasília
Agripino Maia enfrenta uma tarefa espinhosa
Agripino Maia enfrenta uma tarefa espinhosa
Último representante da extrema-direita brasileira, o partido Democratas (DEM) acusou o golpe, nesta terça-feira, ao atacar o prefeito de São Paulo, Gilberto Kassab, por sua decisão de abandonar a legenda. O senador José Agripino Maia (DEM-RN), eleito para a Presidência do partido em sua pior crise desde a extinção do Partido da Frente Liberal (PFL), tenta evitar o êxodo de sua base, já desfalcada pelos descontentes com os rumos que o partido tomou nos últimos anos.
Maia, no entanto, não deixa de espetar Kassab ao afirmar que a sigla não abriga oportunistas, mas pessoas com convicção.
– O que pretendo, como presidente, é tornar estas convicções o carro-chefe do partido. A Executiva eleita reúne os diversos segmentos do partido. O DEM é um partido onde não estão abrigados oportunistas. As pessoas que estão aqui é por convicção. O que pretendo, como presidente, é tornar estas convicções o carro-chefe do partido. O meu desafio é ter diretórios municipais instalados em todos os municípios do país. Vou propor ao partido esta meta. Onde pudermos ter candidatos em 2012, vamos ter – disse Maia a jornalistas, nesta manhã.
Diante da nomeação de vários integrantes do DEM, ex-aliados de Kassab, em postos-chaves na nova diretoria, Maia garante que esta não foi uma forma de mantê-los na legenda.
– Não é uma maneira de manter, é uma forma negociada de dar espaço para todos os que fazem o partido. Não estamos aprisionando ninguém, ninguém está lá por oportunismo, está lá por convicção. As pessoas concordaram em fazer parte da Executiva voluntariamente.
Ainda segundo Maia, a aliança com o PSDB deverá continuar.
– A ação conjunta prossegue. É uma filosofia. É um dever do partido com o seu eleitorado, que nos indicou para fazer oposição. Faz parte da sua identidade – concluiu.

sábado, 12 de março de 2011

A educação depois das reformas neoliberais

Depois das reformas neoliberais

Por Brunna Rosa

Assim como em outras áreas de responsabilidade do poder público, a educação passou por reformas instauradas sob “recomendações” de organismos multilaterais, como o Fundo Monetário Internacional (FMI) e o Banco Mundial (Bird), em toda a América Latina nos anos 90. Os impactos dessas medidas em quatro dos países nos quais foram aplicadas – Argentina, Brasil, Chile e México – é o objeto de estudo de duas pesquisadoras, uma da área da Educação e outra da área de História. 
Nora Rut Krawczyk e Vera Lucia Vieira publicaram o livro A Reforma Educacional na América Latina. Uma perspectiva histórico-sociológica (editora Xamã), para avaliar as especificidades e impactos da reforma educacional no período. 
Em entrevista à Fórum, Nora Rut Krawczyk sustenta que as “recomendações” concretizaram idéias que já vinham tomando corpo desde os períodos de ditaduras militares, avançando pela desregulamentação do Estado e de suas funções perante a educação. 

Fórum – O que há de comum nas reformas educacionais dos anos 90 na América Latina? 
Nora Rut Krawczyk – Existem várias análises sobre o tema, mas não existia uma a respeito das especificidades das reformas educacionais em cada país latino-americano. Foi isso que motivou nossa pesquisa. Partimos do princípio de que a reforma educacional nesta região teve um processo de indução externa de organismos internacionais, em que estava embutida a idéia de que tanto os problemas quanto as soluções – e, portanto, as políticas – deveriam ser comuns e, mais que isso, homogêneas em toda a região. De fato, a reforma foi conservadora, mas as diretrizes não se transformaram em uma agenda política tal como previsto pelos organismos internacionais. Isso não se concretizou devido ao sentido histórico dos processos de reforma e às mudanças do papel do Estado em cada um deles. 
[Para o estudo,] escolhemos Argentina, Chile, Brasil e México devido a sua centralidade na América Latina. Os pontos em comum são a perda do sentido da universalidade e gratuidade da educação pública, assim como da exclusividade do Estado como provedor. Porém, o redimensionamento das funções públicas é distinto em cada um dos países. Além disso, se valoriza a gestão privada em detrimento da gestão pública e ganha força a idéia de que a educação tem um poder transformador sem necessidade de outras medidas estruturais. Por fim, se estabelece a lógica de formulação de política a partir das conciliações de poucos setores da sociedade. 
A principal alteração é a descentralização. No caso da Argentina, isso significou completar a provincialização, a transferência [da responsabilidade] iniciada no governo militar a todas as províncias. No caso do México, ainda que também tenha ocorrido, esse processo se deu em conjunto com um forte corporativismo vinculado a uma forma histórica de relacionamento entre Estado e sociedade mexicana. 
No caso do Chile, um país unitário e não-federalista, descentralização é, de fato, a privatização subsidiada pelo Estado, iniciada na ditadura de [Augusto] Pinochet. Quanto ao Brasil, acontece o processo de municipalização que segue o modo como o sistema educacional foi conceituado historicamente, salvo na ditadura militar. 

Fórum – Como essas especificidades determinaram as reformas educacionais nos países da América Latina? 
Krawczyk – Gerir a educação é distribuir responsabilidade a diferentes setores da sociedade e do Estado. Então, as diferenças de concepção de espaço público interferem na concretização da reforma. 
Na regulamentação propriamente dita também há diferenças. Por exemplo, na Argentina, ao passar a responsabilidade para as províncias, o financiamento passa a ser clientelista e partidário, dependente da relação entre o governo central e o da província. No caso do Brasil, há uma forte regulamentação por meio do Fundef [Fundo de Manutenção e Desenvolvimento do Ensino Fundamental e de Valorização do Magistério], em que se define claramente o que cada esfera de poder tem de destinar à educação. São formas muito diferentes. 
A explicação para isso é o modo como se constituíram os embates políticos e econômicos na lógica de federalização de cada país. Outra questão é o discurso que justifica a abertura da educação para setores privados. Passa-se a dar responsabilidades para o mercado, para a família. O discurso oficial está vinculado às características próprias do setor privado em cada país. No caso do Brasil, o discurso foi principalmente o da responsabilidade social sobre o bem público. No Chile, era “a educação e a escola é uma empresa como qualquer outra e, portanto, o setor privado tem obrigações sobre ela”. A privatização é muito mais forte e aguda. Discursos distintos também produzem diferentes reformas educacionais. Em comum há a retirada de responsabilidade do Estado. Mas quanto menor a presença histórica do setor público, mais fácil foi convencer a sociedade dessa “corresponsabilidade”. 

Fórum – No decorrer da reforma educacional, como a figura do professor foi atingida? 
Krawczyk – A reforma educacional tem como centro as mudanças no interior da escola. Uma das características comuns a todos os países é a burocratização do cotidiano de cada escola, que recebe funções antes concentradas [nas secretarias de governo]. Isso significa um aumento do trabalho administrativo e da gestão financeira para os professores e para a equipe de direção. Esse aumento da responsabilidade significa que os professores têm de procurar outras fontes de recursos além do financiamento público. 
Tanto para essa finalidade quanto para o financiamento público não-obrigatório, a distribuição é feita a partir de projetos que cada unidade elabora. É preciso gerar projetos sistematicamente para ter acesso a financiamento, isso produz o “ativismo institucional”, além da forte relação de competitividade entre as escolas. 
Outra via de aumento de responsabilidade dos docentes são as avaliações externas. O professor passa a ser responsável pelo aprendizado dos alunos e pela melhoria dos indicadores nos rankings de avaliação. Além disso, há uma forte desvalorização da carreira do funcionalismo público, por meio da mídia e dos governos. Há uma insistência em atribuir os problemas do rendimento educacional à necessidade de desregulamentação da carreira, para incorporar o salário por desempenho, contratos sem via de concurso público etc. 
E, de modo geral, não houve muitas mudanças provocadas por pressão dos docentes. Uma greve de professores nos anos 90 na Argentina foi chamada de “La carpa blanca” [A barraca branca], pois foram montadas barracas pelos professores do país inteiro em frente ao palácio do governo, na Praça de Maio. A questão central era o salário e a sociedade se solidarizou muito. Essa manifestação aconteceu porque a descentralização fragmentou a negociação salarial. Desde a década de 80 os docentes foram tentando reverter essa situação com mobilizações nacionais para discussão do Piso Salarial, que só foi instituído no Brasil, não existe nos outros países da América Latina.

Fórum – Com a ascensão de líderes mais à esquerda ao poder, como a senhora avalia a educação na América Latina? 
Krawczyk – A reforma educacional, ao menos nesses quatro países, produziu mudanças estruturais importantes, vinculadas à perda do sentido do Estado como único provedor da educação. O que não estava claro era qual seria o papel do Estado. 
Esse é o ponto de partida dos governos que você citou. Não desconstroem o que ocorreu na década de 90, mas tentam “regulamentar a desregulamentação”. Em outras palavras, tentam deixar claro como vão ser distribuídas as responsabilidades de cada instância em um novo modelo de gestão pública da educação. É uma forma diferente do que se propunha nas décadas de 80 e de 90, mas com resquícios fortes. 
No caso do Chile, por exemplo, a lógica de financiamento é totalmente distinta. Os docentes têm seus salários baseados em desempenho desde a época de Pinochet. Ainda que existam políticas comuns a todos os professores, o sistema está privatizado e os salários sofrem diferenças devido às instituições escolares. A tensão de setores que querem desregulamentação maior é muito forte. 
No México, desde a década de 90, o PAN [Partido Acción Nacional] se tornou hegemônico, porém a reforma demora a se consolidar justamente pela resistência dos docentes. Então [Vicente] Fox assume o governo em 2001 e de fato se dá a reforma neoliberal. 
No Brasil, o que faz o governo Lula, principalmente na segunda gestão, com o [Fernando] Haddad, é reformular algumas funções da União, vinculadas a garantir organicidade ao conjunto da educação. Tenta-se construir novas funções, mas nada no sentido de voltar à idéia do Estado como o único provedor de recursos. 

Fórum – Isso quer dizer que a idéia de Estado como único responsável pela educação é ultrapassada? 
Krawczyk – Não, pelo contrário. O sistema capitalista tem como uma de suas características estruturais a desigualdade e só o Estado pode impedir que ela cresça sob o ritmo dos interesses do capital. O melhor exemplo é o que está acontecendo agora com a crise financeira e a atuação do Estado, o único ator social que pode se contrapor, por mais que esteja permeado pela própria lógica do capitalismo. Mas é apenas nesse âmbito que se dá a luta por projetos distintos, porque no mercado não há espaço de disputa de projetos sociais distintos. Quando se reduz o espaço público, se diminui a possibilidade da disputa política, social e econômica. Uma reformulação de política nesse contexto é resultado da negociação e conciliação de alguns setores da sociedade, porque é muito mais fácil negociar com um segmento do que com a sociedade como um todo. E negociar quer dizer lutar por espaços de poder.

A íntegra dessa matéria está na edição impressa. Reserve com seu jornaleiro!

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Marcelo "Tuk" Leite
CAHis Luiza Mahin - Gestão Atitude & Resistência - Enquanto Houver LUTA, Haverá HISTÓRIA!  2010-2011
DCE-UFBA - Gestão Primavera nos Dentes 2010 - 2011
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O Positivismo e o conceito de "metafísica"

Positivismo e O CONCEITO DE METAFÍSICA
“Metafísica” integra o rol de palavras cujo sentido é confuso e que, ambivalente, mais serve para confundir que para esclarecer. Embora na obra de Augusto Comte a “metafísica” não ocupe um papel central, polar em relação a “conhecimento positivo” – esse papel cabe a “teologia” e, de maneira mais central, ele estabelece-se tomando como pólos “absoluto” e “relativo” –, o discurso moderno (isto é, do século XX) adotou como polares “metafísica” e “ciência”, o que exige alguns comentários.
Para Comte, a “metafísica” é uma etapa de transição entre a teologia e a positividade; é meio-caminho, que compartilha características de uma e de outra; já busca compreender a dinâmica natural, mas adota procedimentos próprios à teologia. Suas características mais marcantes talvez possam a seguintes: absoluta; faz uso das entidades abstratas, ou abstrações personificadas (ou ainda, em linguagem contemporânea, das abstrações reificadas); além disso, em virtude da incapacidade de desprender-se dos raciocínios teológicos, lança mão de jogos de palavras e de raciocínios circulares (“o éter faz dormir porque possui propriedades soporíferas”, “a Natureza tem horror ao vácuo”).
Convém notar que a metafísica é mera transição; a ela não se concede a dignidade de uma etapa estável e durável como são os casos da teologia e da positividade. Para Comte, a degradação da teologia sempre assume a forma da metafísica, ou seja, ela é teologia degradada. Ao longo da história isso facilitou as transições entre fases orgânicas, como entre o politeísmo e o monoteísmo, em que a filosofia grega – considerada metafísica por excelência – criou as condições intelectuais para a nova fase, seja como dissolvente da fase anterior, seja elaborando materiais preliminares. Aliás, é por esses motivos que a metafísica é crítica, no sentido de destruidora da ordem prévia: incapaz de construir sobre bases estáveis, destrói o que vê pela frente.
Nas transições anteriores, as condições sociais permitiam que a passagem ocorresse de uma fase orgânica para outra sem um interregno crítico muito demorado, pois o sistema social novo já tinha elementos formados e a transição era gradativa. Modernamente, todavia, a metafísica cumpriu seu papel dissolvente, mas os elementos do novo sistema não estão – ou melhor, não estavam – totalmente formados: somente em termos secundários a ciência constituiu-se, restando toda a tarefa de constituição central dos fundamentos do sistema positivo. É necessário notar-se, além disso, que a transição moderna é muito mais profunda que as anteriores: das civilizações absolutas, belicistas e particularistas[1], a modernidade deve caracterizar-se pela relatividade, pelo pacifismo e pelo universalismo[2].
A caracterização desse duplo movimento – de destruição da antiga ordem social, teológica e absoluta, e constituição de uma nova ordem, positiva e relativa – ocupa vários capítulos das obras de Comte e está na origem das suas reflexões sociológicas, como se vê nos vários artigos que compõem o seu Opúsculos de filosofia social, que são suas “obras de juventude”[3]; desse modo, não vem ao caso insistirmos nela.
O que importa reter, por outro lado, é que a metafísica é um conceito mais ou menos acessório para Comte[4]; que ele caracteriza-se pelo absolutismo filosófico, pela reificação das abstrações, pelo caráter dissolvente em termos intelectuais e, daí, sociais. Em outras palavras, no Positivismo comtiano não se confere a centralidade à metafísica que se atribui contemporaneamente (nem aquela que se afirma que Comte atribuía).
Embora de modo geral Anthony Giddens erre nas caracterizações que faz da obra de Comte – já o indicamos em várias ocasiões –, ao indicar a definição comtiana de metafísica ele mais ou menos acerta: para Giddens, a metafísica em Comte define-se em termos metodológicos[5]; na verdade, sendo mais precisos, poderíamos indicar: em termos teóricos, isto é, histórico-sociológicos.
Antecipando-nos ao argumento, vê-se que Augusto Comte não percebe a metafísica como sinônima de “filosofia”, “valores morais”, “especulação” ou “pressupostos teóricos e epistemológicos”.
Nesse sentido, aliás, valem algumas precisões: para Comte, a positividade e o pensamento positivo não equivalem a cientificidade e a pensamento científico. Conforme vê-se no Apelo aos conservadores, a palavra “positivo” define-se como sendo “real, útil, certa, precisa, relativa, orgânica e simpática”. Deixando de lado a explicação de cada um desses termos, para o que nos interessa cumpre notar que o espírito positivo tem uma visão global da realidade e é motivado pelo altruísmo; já a ciência é parcial e não se move necessariamente pelo altruísmo: nesses termos, o espírito positivo é superior à ciência[6]. Por outro lado, Comte procurou definir com clareza a sua epistemologia, que constituem em parte os seus “pressupostos”: é a “Filosofia Primeira” (que reproduzimos como “Anexo” a este texto).
Sem deixar de lado o que Augusto Comte escreveu, a importância contemporânea da “metafísica” liga-se, até certo ponto, à crítica que o Círculo de Viena fez dela. Caracterizando-a como impassível de verificação empírica, os vienenses afirmavam que ela é sem sentido e, portanto, como desprezível. O pólo conceitual oposto era a ciência, percebida como dotada de sentido; o sentido, por sua vez, era definido como a capacidade de vincular cada afirmação a uma observação empírica, em um processo de correspondência um-a-um. A teologia era percebida também como sem sentido, mas, como ela caracteriza-se facilmente pelo apelo às divindades, sua identificação era fácil e simples; além disso, como a ordem natural rejeita a ação das divindades, não faria sentido misturar ordinariamente teologia e ciência: por tais motivos, a teologia ocupa um lugar bastante marginal nos escritos do Círculo de Viena[7].
Como se sabe, o Círculo de Viena constituiu-se em parte com a preocupação de conferir rigor às elaborações científicas, em termos de suas fundamentações filosóficas; nesses termos, a distinção entre ciência e metafísica seria um importante problema. A partir disso, propuseram-se vários “critérios de demarcação”, como os de Carnap e de Popper[8] e que de modo geral separavam ciência e metafísica pela já indicada capacidade de vincular as afirmações teóricas a observações empíricas da ciência e a simétrica incapacidade da metafísica.
Além disso, o Círculo de Viena tinha uma exigência adicional para caracterizar a verdadeira ciência da metafísica: a elaboração de teorias explicativas apenas após o exame dos fatos; o exame da realidade munido de teorias prévias seria a formulação e a aplicação de metafísica à ciência.
Essas idéias do Círculo de Viena[9] até certo ponto resumem bem as concepções que se tem sobre a metafísica: valores prévios à pesquisa (bem entendido: valores morais e políticos que não se referem à prática científica), especulação teórica.
Talvez convenha precisar e desenvolver um aspecto, o da “especulação”. Como se sabe, a “filosofia” é uma atividade que apresenta as mais variadas definições, desde a análise dos termos das frases até a justificação das decisões teóricas e práticas; uma definição “clássica”, porém, considera que ela apresenta um caráter especulativo, em que, embora presumivelmente tenha que manter alguma relação com a realidade concreta, não precisa estar atrelada a ela; assim, a filosofia consistiria em uma reflexão geral sobre a realidade humana e cósmica. Nesse sentido, muitos vinculam a filosofia à metafísica definida epistemologicamente, isto é, a filosofia seria por definição a reflexão “meta-física”, isto é, “que vai além da física”.
Nesse sentido estrito, sem dúvida alguma que toda filosofia é metafísica. Se pensarmos que a teologia refere-se às divindades e que a ciência refere-se ao estudo analítico da realidade, caberia a essa “metafísica” a reflexão geral sobre o mundo, que poderia, quem sabe, passar da divindade à realidade empírica.
Essa definição, além de ser etimológica, corresponde a uma divisão do trabalho intelectual e estabelece uma tautologia: a filosofia é sempre metafísica; inversamente, a crítica à metafísica é a crítica à filosofia e ao filosofar. Tal concepção é bastante restrita, mas, curiosamente, é bastante difundida: mesmo o Círculo de Viena, que era tão rigoroso a respeito dos enunciados, adotou-a em larga medida. De qualquer forma, essa definição – tautológica – abarca as concepções que indicamos anteriormente: existência (ou afirmação) de teorias preliminares às investigações empíricas, atividade especulativa.
Cada um pode definir as coisas mais ou menos como bem entender. As definições relacionam-se à capacidade individual e coletiva de comunicação, em que uma definição específica deve ser compartilhada a fim de que várias pessoas possam entender-se a respeito de determinados assuntos; considerando essa imposição prática, as definições podem ser ajustadas às necessidades particulares de cada grupo ou, em determinados casos, de cada indivíduo. No caso da palavra “metafísica”, a definição-padrão, que é a etimológica e, como vimos, é tautológica, cria mais problemas que soluções; ela serve mais para confundir que para esclarecer – com o agravante de que em inúmeros casos o que se deseja é precisamente confundir.
Antes de mais nada: por que a definição etimológica confunde? Porque ela não esclarece os vários sentidos a que se referem os pensadores – em particular, para o que nos interessa, Augusto Comte. Ao tornar equivalente a atividade filosófica e a metafísica, não se esclarece qual o conteúdo específico da metafísica. Isso deixa de lado os modos e os conteúdos das obras de pensadores que quiseram ser especificamente “metafísicos”, ao mesmo tempo que elude que pensadores teológicos ou científicos são, também, cultores da filosofia, mas não da metafísica. Em outras palavras, afirma corretamente que toda laranja é fruta, mas finge que toda fruta é laranja, deixando de lado o fato central de que maçãs e peras também são frutas.
Essa confusão não é casual. É claro que pode ocorrer dificuldades conceituais; é claro que uma distinção adequada entre filosofia e metafísica – quando a metafísica criticava a teologia e afirmava como modalidade específica de filosofar e, depois, quando a prática científica criticou a metafísica – tornou-se durante um certo tempo difícil. Podemos pensar no passo decisivo para o ser humano o reconhecimento socrático de que existe uma realidade autônoma constituída pelo pensamento: antes disso, a conceituação do “real” e do “ideal” era altamente problemática[10].
Esse gênero específico de confusão, portanto, é histórico e, portanto, datado; quem incidia nele cometia um erro natural, involuntário e perfeitamente desculpável. O que não é desculpável é a reincidência nele, em particular a intencional.
De modo mais específico, a (re)afirmação da metafísica como filosofar o mais das vezes serve para diminuir a importância da racionalidade científica, isto é, para denunciar as limitações do pensamento científico. Ora, é evidente que o pensamento científico é limitado: na verdade, os próprios cientistas admitem-no e percebem-no, ao reconhecerem que o afirmado hoje poderá, e provavelmente será, negado amanhã. Além disso, a ciência é parcial, isto é, trata abstratamente de questões específicas e não de toda a realidade e, muito menos, de questões concretas. Por outro lado, essa visão parcial não basta para o ser humano compreender a realidade, isto é, para que ela faça sentido; além disso, a investigação científica requer teorias preliminares, assim como determinadas concepções gerais sobre a realidade (a realidade deve ser estudada em termos naturalísticos em vez de sobrenaturalísticos; deve-se evitar tanto o materialismo quanto o espiritualismo etc.).
Afirmar os limites da ciência e apontar seus pressupostos é uma necessidade; para conhecermos a realidade temos que conhecer com clareza os instrumentos de que dispomos e saber como operam e em quais condições. Todavia, determinar essas características é uma coisa; afirmá-las em termos de “metafísica” já se torna um recurso retórico cujo objetivo de diminuir o instrumento é bastante claro.
O famoso livro de Edwin Burtt, As bases metafísicas da ciência moderna, constitui um exemplo claro dessa intenção. Seu objetivo é esclarecer, isto é, pôr às claras os pressupostos filosóficos da ciência moderna, estabelecidos por ele nos séculos XVI e XVII, com Galileu e Newton. Em vez de dizer “bases metafísicas”, poderia perfeitamente dizer “bases filosóficas” ou, quem sabe, “bases epistemológicas”. O que sua opção sugere, todavia, é que a própria ciência é metafísica, ou pelo menos “contaminada” (indelevelmente) pela metafísica. Poder-se-ia argumentar que essa afirmação tenha sido feita de maneira polêmica, em contraposição às idéias mais “radicais”, isto é, mais “cientificistas” do Círculo de Viena ou de pensadores assemelhados: mesmo com um objetivo polêmico, o resultado é o de afirmação da validade da metafísica por meio da negação da ciência ou de sua equiparação à metafísica, isto é, aos pensadores que buscam o absoluto, que reificam as abstrações e assim por diante. Em outras palavras, entre (por exemplo) Einstein e Heidegger não haveria diferença profunda.
Poderíamos multiplicar os exemplos, que iriam da Filosofia da Ciência à Teoria Política. Como, todavia, o que nos interessa aqui é o pensamento comtiano, a ele retornamos. São freqüentes as “acusações” de que a obra de Comte apresenta elementos “metafísicos” e, assim, ela seria incoerente e inválida. Deixando de lado o fato de que a incoerência não é um motivo sério para desconsiderar-se um pensador (Nietzsche é o mais gritante exemplo disso), as únicas formas, conexas, de afirmar-se que Augusto Comte era “metafísico” são 1) ignorar os vários elementos históricos, teóricos e epistemológicos que compõem sua definição de “metafísica” e 2) adotar a definição etimológica e tautológica de metafísica[11].
Para concluir estas anotações, reafirmamos duas idéias: em primeiro lugar, ainda que cada pensador defina os conceitos que usa como julgar mais adequado, não é aceitável definir a metafísica etimologicamente, pois gera confusão, o mais das vezes de maneira intencional; em segundo lugar, a definição comtiana de metafísica é útil e correta, por fornecer critérios teóricos, históricos e epistemológicos para a caracterização da metafísica.
* * *
Quadro das quinze leis de filosofia primeira, ou
Princípios universais sobre os quais assenta o dogma positivo[12]
Primeiro grupo, tanto objetivo como subjetivo
1ª Formar a hipótese mais simples e mais simpática que comporta o conjunto dos dados a representar (I)
2ª Conceber como imutáveis as leis quaisquer que regem os seres pelos acontecimentos, posto que só a ordem abstrata permite apreciá-las (II)
3ª As modificações quaisquer da ordem universal limitam-se sempre à intensidade dos fenômenos, cujo arranjo permanece inalterável (III)
Segundo grupo, essencialmente subjetivo
1ª série: leis estáticas do entendimento
1ª Subordinar as construções subjetivas aos materiais objetivos (Aristóteles, Leibnitz, Kant) (IV)
2ª As imagens interiores são sempre menos vivas e menos nítidas que as impressões exteriores (V)
3ª A imagem normal deve ser preponderante sobre as que a agitação cerebral faz simultaneamente surgir (VI)
2ª série: leis dinâmicas do entendimento
1ª Cada entendimento oferece a sucessão dos três estados, fictício, abstrato e positivo, em relação às nossas concepções quaisquer, mas com uma velocidade proporcional à generalidade dos fenômenos correspondentes (VII)
2ª A atividade é primeiro conquistadora, em seguida defensiva e enfim industrial (VIII)
3ª A sociabilidade é primeiro doméstica, em seguida cívica e enfim universal, segundo a natureza peculiar a cada um dos três instintos simpáticos [apego, veneração e bondade] (VIII)
Terceiro grupo, sobretudo objetivo
1ª série: a mais objetiva da filosofia primeira
1ª Todo estado, estático ou dinâmico, tende a persistir espontaneamente sem nenhuma alteração, resistindo às perturbações exteriores (IX)
2ª Um sistema mantém sua constituição ativa ou passiva quando seus elementos experimentam mutações simultâneas, contanto que sejam exatamente comuns (X)
3ª Existe por toda parte uma equivalência necessária entre a ação e a reação, se a intensidade de ambas for medida conformemente à natureza de cada conflito (XII)
2ª série: mais subjetiva que a precedente
1ª Subordinar por toda parte a teoria do movimento à da existência, concebendo todo progresso como o desenvolvimento da ordem correspondente, cujas condições quaisquer regem as mutações que constituem a evolução (XIII)
2ª Todo classamento positivo procede segundo a generalidade crescente ou decrescente, tanto subjetiva como objetiva (XIV)
3ª Todo intermediário deve ser subordinado aos dois extremos cuja ligação opera (XV).


[1] Uma transição anterior foi também de grande monta, ainda que de proporções relativamente menores em termos da natureza humana: a passagem da organização política clânica para a pólis constituiu-se em uma ruptura forte, em que as relações sociais mudaram bastante de aspecto.
[2] Essas três exigências são sentidas e proclamadas atualmente, ainda que de maneiras um tanto confusas. As previsões de Augusto Comte a respeito da natureza da nossa civilização, isto é, da civilização positiva confirma-se, a despeito das negativas dos apóstolos do absoluto, da beligerância e, claro, dos particularismos (nacionalistas ou “civilizacionais”).
[3] É fácil perceber, lendo esses artigos, que, como indicou Raymond Aron, a motivação política subjacente a eles é a compreensão sociológica da Revolução Francesa, isto é, de suas causas e de seus efeitos. Essa preocupação específica, somada à exigência teórico-metodológica de visão de conjunto, originou uma brilhante exposição sobre a história da Humanidade – é o volume III do Sistema de política positiva –, que incorpora desde os povos fetichistas até as sociedades mais modernas e permite o diálogo (teórico e prático) entre todas elas.
[4] Isso é comprovado pelos diversos enunciados da lei dos três estados: em todos eles a metafísica é apresentada secundariamente, após a caracterização da teologia e da positividade e sempre de maneira auxiliar a essas caracterizações prévias. Além disso, à medida que avançava suas reflexões sociológicas, mais e mais Comte incluía o fetichismo como uma etapa preliminar distinta da “teologia”, de maneira a permitir a fusão do positivismo final com o fetichismo inicial, no que alguns autores (Juliette Grange, Laurent Fedi) chamam de “neofetichismo”. Um relato cerrado sobre os vários enunciados da lei dos três estados pode ser lido no livrinho de Mike Gane, Comte.
[5] Ainda assim, Giddens não avança na compreensão da obra de Comte, preferindo o recurso fácil da redução de Comte ao Círculo de Viena.
[6] Essas observações resultam, por outro lado, em uma ácida crítica aos procedimentos de diversos cientistas e às universidades como um todo: para Comte, muito do que se entendia – e, bem vistas as coisas, ainda se entende – por ciência consistia em meras coleções de fatos isolados e, por si sós, inúteis, com o desprezo dos sentimentos e das preocupações sociais; além disso, tais práticas, em vez de subordinarem corretamente a imaginação à observação, simplesmente acabariam com a imaginação. Tais comentários estão espalhados em todas as obras de Comte, mas são especialmente claros no “Prefácio pessoal” do volume VI do Sistema de filosofia positiva, de 1842; já a afirmação do espírito positivo em relação à mera cientificidade está clara no Discurso sobre o espírito positivo, também de 1842.
[7] Aliás, não deixa de ser notável que alguns de seus membros, ou melhor, alguns dos pensadores preocupados com a diferença entre metafísica e ciência fossem teológicos: esse é o caso de Karl Popper – comumente percebido como “arquipositivista” (especialmente após a polêmica com o também teológico Adorno, da Escola de Frankfurt) – que reconhecia sua crença em deus. A coerência filosófica de Popper (e de Adorno, convém enfatizar) é, assim, bastante discutível.
[8] O caso de Popper é, em certo sentido, problemático, pois, participando dos debates promovidos pelo Círculo de Viena e preocupado com a justificação da ciência empírica, ele era crítico do Círculo de Viena. A dificuldade a seu respeito é a atribuição do qualificativo “positivista” para ele; mesmo restringindo esse adjetivo somente (ou principalmente) ao Círculo de Viena – o que, por si só, já é altamente problemático, pois descaracteriza o pensamento comtiano –, não apenas os membros do Círculo rejeitavam essa classificação como Popper afirmava não ser positivista, mas um filósofo “crítico”. A idéia de um Popper positivista foi difundida, em primeiro lugar, pela Escola de Frankfurt, com a famosa “disputa do Positivismo na Sociologia alemã”, que opôs Popper a um Adorno surdo aos argumentos contrários aos seus; depois, o chamado “pós-positivismo” criou um construto chamado “positivismo” a fim de opor-se a ele, incluindo nele Popper (e, por metonímia, Comte); a disputa de Popper com o primeiro dos “pós-positivistas” (Thomas Kuhn) certamente contribuiu para esse mito.
[9] Assumo com clareza a limitação desta exposição, que é de fato bastante sumária. Além das reduzidas proporções desses comentários, importa notar também que o Círculo de Viena não era homogêneo nem suas idéias constituíram uma “escola” propriamente dita. Na verdade, houve dois círculos, compostos por filósofos, cientistas naturais e matemáticos, reunidos pela preocupação com os fundamentos da ciência e com a demarcação relativamente à metafísica; embora procurassem o consenso, suas perspectivas não eram coincidentes e ocorria divergências marcadas entre eles. Assim, o mais das vezes, quando se fala em “Círculo de Viena”, faz-se uma generalização indevida; o principal, ou mais conhecido, pensador do Círculo era Rudolph Carnap; secundariamente, indica-se também Otto Neurath.
[10] O caso de Pitágoras é exemplar nesse sentido: sua escola entrou em crise quando, após afirmar a racionalidade do real e da Matemática, deu-se conta de que a diagonal de todo quadrado é um número irracional, múltiplo de √2.
[11] Uma variação desses procedimentos é adotar a, ou melhor, uma definição do Círculo de Viena para a metafísica e atribuí-la a Comte; o resultado desse sofisma é mostrar como Comte não seria suficientemente “positivista”. Além de misturar os conceitos e cometer o erro do anacronismo, esse procedimento, que é assaz comum, ignora as críticas que Comte faria ao cientificismo do Círculo de Viena, qualificando-o como pouco positivo e, portanto, metafísico.
[12] Fonte: Augusto Comte. 1934. Catecismo positivista ou sumária exposição da Religião da Humanidade. 4ª ed. Rio de Janeiro : Apostolado Positivista do Brasil, p. 479.

Dilma sente falta do Lula

Dilma sente falta de Lula

11/3/2011 13:42,  Por Redação - de Brasília
Dilma também esteve em um programa matinal de TV
Dilma discursou para os sindicalistas
Em cerimônia reservada no Palácio do Planalto, com a presença da presidenta Dilma Rousseff, a ministra do Planejamento, Miriam Belchior, assinou a portaria que assegurada a participação de empregados no conselho de administração de empresas públicas e sociedades de economia mista. O documento foi assinado pouco antes da primeira reunião de Dilma com representantes de centrais sindicais. A participação dos empregados nos conselho de administração é uma reivindicação antiga dos sindicalistas e foi negociada ainda durante o governo do ex-presidente Luiz Inácio Lula da Silva.
A portaria n° 026, que detalha a Lei nº 12.353 de 28 de dezembro de 2010, vale para empresas com mais de 200 empregados nas quais a União, direta ou indiretamente, detenha a maioria do capital social com direito a voto. A medida abrangerá 59 instituições, de acordo com o Ministério do Planejamento. O processo de eleição do representante dos empregados deverá ser organizado por uma comissão formada por representantes da empresa e das entidades sindicais. Todos os empregados ativos poderão votar, e os critérios de exigência para o cargo de conselheiro são os mesmos previstos em lei e no estatuto das respectivas empresas.
Encontro
Dilma recebeu, no início desta tarde, os representantes das seis maiores centrais sindicais e atendeu demanda apresentada por elas em 2008 ao ex-presidente Luiz Inácio Lula da Silva. O encontro visou reabrir o canal de comunicação entre a presidenta e os sindicalistas, após desgastes ocorridos na votação sobre o valor do salário mínimo.
– Falta, sem dúvida, uma pessoa, que é o presidente Lula porque ele lutou muito por esta lei. Eu sou testemunha da quantidade de vezes que ele perguntava para o Paulo Bernardo: ‘E aí, ô Paulo, a minha… a regulamentação da participação dos trabalhadores no Conselho das empresas?’. A aprovação da (Lei) 12.353, que foi assinada já no apagar das luzes do governo do presidente Lula, e agora nós estamos regulamentando através de portaria, é algo que todos nós devemos comemorar. Falta ele nesta cerimônia, sem dúvida nenhuma – disse Dilma durante seu discurso.
Para ela, não se trata de uma questão “muito lateral” o pedido dos trabalhadores das empresas (públicas) de serem representados nos Conselhos.
– É importante porque os trabalhadores, eles têm, da sua ótica, uma visão permanente da empresa, e essa visão permanente, ela é muito importante. A história do Brasil demonstra isso – afirmou Dilma.