domingo, 4 de março de 2012

Marxismo no século XXI

*Marxismo no século XXI* - *Rafael
Rossi
 
Enquanto boa parte dos marxistas olha para a Europa buscando respostas para
a renovação do pensamento socialista e outros socialistas apostam na
construção confusa do socialismo do século XXI, outro nome para o chavismo,
podemos encontrar alternativas nas propostas mais radicais do socialismo
revolucionário: o trotskismo, o existencialismo e outra proposta que não
era socialista, mas que se faz indispensável – a antropofagia.
 
 
Nada de realmente revolucionário virá de gramscianos e de chavistas. Estes
são os neorreformistas de discurso radical, mas incapazes de se tornarem
portadores do futuro.
 
 
 
Os social-democratas e os stalinistas já foram condenados pela História,
sendo cadáveres insepultos, que atuam como auxiliares do poder nos governos
e no movimento. Agentes da classe dominante, voluntária ou
involuntariamente, desde sempre.
 
 
 
O guevarismo é produto do desespero da vanguarda frente à terrível
realidade ou de um romantismo ingênuo, inspirador e cativante, mas que
cimenta a estrada para a derrota, assim como o maoísmo e de fora do
marxismo, o anarquismo, e todas as demais correntes voluntaristas e
subjetivistas.
 
 
 
A terceira via é o neoliberalismo de base social de esquerda e progressista
e, assim como o trabalhismo brasileiro e o populismo latino-americano, não
passa de uma estratégia da classe dominante para disputar a consciência e
os votos da classe trabalhadora.
 
 
Infelizmente, as correntes mais avançadas do marxismo e do movimento social
e intelectual do nosso tempo sempre foram minoritárias, senão marginais. O
trotskismo e sua concepção absolutamente radical, pautada na estratégia da
revolução socialista mundial e no princípio da democracia operária, que se
aplicaria tanto ao movimento quanto ao Partido e se estenderia ao Estado
socialista futuro; e o existencialismo sartreano e a busca da liberdade
individual, através do caminho da escolha e da responsabilidade pelas
escolhas feitas, relacionando a liberdade pessoal com a luta pela
libertação coletiva, devolvendo ao marxismo a dimensão do humanismo, sempre
tiveram mais força entre a juventude do que entre os trabalhadores e sempre
foram criticados e até mesmo rechaçados pela maioria dos lutadores sociais
e dos intelectuais.
 
A situação do mundo atual não parece corroborar com as teses dessa maioria.
 
 
Além disso, não existe possibilidade de renovar o marxismo que não seja
pelo caminho da originalidade, da criatividade e da ousadia.
 
 
 
Mariatégui e Oswald de Andrade trazem para o marxismo uma nova visão de
mundo, que rompe completamente com o evolucionismo e com o eurocentrismo.
 
 
 
Mariatégui foi capaz de enxergar a possibilidade histórica de uma transição
socialista a partir das comunidades indígenas. O modo de vida comunitário
de indígenas e de camponeses pode ser uma ponte para o comunismo futuro. O
regime de cooperação e o coletivismo presentes na cultura indígena podem
servir para fortalecer o coletivismo presente no comunismo marxista.
 
 
 
Uma visão dura de progresso, inteiramente iluminista e europeia, pode
obscurecer o nosso campo visual e contribuir para a manutenção do estado
atual de coisas, por não mobilizar as forças sociais reais existentes e por
não trilhar os atalhos históricos possíveis em direção ao socialismo.
Talvez precisemos de um certo primitivismo contra a alienação tecnológica
capitalista, que barra o progresso social, aprisionando o nosso horizonte
na lógica mercantil, produtivista, tecnicista.
 
 
 
Oswald de Andrade é um mergulho no que temos de mais primitivo e originário
e, portanto, mais autêntico e transforma o primitivo na versão moderna dele
mesmo até o ponto em que se torna um produto completamente original. A
antropofagia é o laço que une o nacional e o regional e o universal, o
local com o global, o antigo com o moderno, o velho com o novo, o estado
primitivo ou natural com a técnica mais avançada. O tropicalismo expressou
de maneira bastante viva essa concepção estética e até mesmo filosófica.
 
 
O marxismo do século XXI deve se encontrar com a juventude e com os povos
indígenas de modo inextricável e ter esses setores sociais como seus
pilares de sustentação na vida política e social. Esses grupos sociais se
insurgem contra o poder capitalista de forma sistemática e irreconciliável.
A vida comunitária de indígenas e de quilombolas é por si só uma ameaça ao
capitalismo e à propriedade privada, sendo, por isso mesmo, mais duramente
combatida. A inexistência de propriedade privada e a ausência de uma lógica
mercantil que domine as relações sociais são exemplos perigosos.
 
 
 
O trotskismo, o existencialismo e a antropofagia são armas política,
filosófica e estética fundamentais na renovação do marxismo.
 
 
 
O radicalismo presente na ideia de revolução mundial é o que torna o
trotskismo tão odiado. Não existe possibilidade de acordo ou de cooptação,
porque o objetivo não é ganhar posições, mas, sim, destruir por completo a
sociedade burguesa e o sistema capitalista.
 
 
 
A luta antiburocrática torna o trotskismo incômodo por ameaçar os
privilégios dos burocratas socialistas e capitalistas.
 
 
 
O existencialismo sartreano rompe com a obediência cega aos chefes como
valor fundamental, restitui ao indivíduo o seu papel na construção da
sociedade, permite-lhe a liberdade de escolha e a história e a vida passam
a ser vistas como um campo de possibilidades, colocando em xeque todo tipo
de fatalismo, de estruturalismo e de determinismo.
 
 
 
A antropofagia permite que o índio devore o burguês e vomite o homem novo.
 
 
 
Um partido leninista pode ser composto por jovens, ter uma base indígena,
realizar ocupações de terras e mobilizar através de blogs.
 
 
 
Um músico pode tocar numa guitarra uma mistura de samba com música
clássica, cantando uma letra de rap. A originalidade é o caminho para a
revolução.
 
 

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