sexta-feira, 27 de abril de 2012

Reencontro com a História

História

05.03.2012 16:43

Reencontro com a história

Por Emiliano José*

 Penso que o lugar do ex-presidente João Goulart na história do Brasil começa a ganhar contornos mais nítidos. Fui alertado pela primeira vez sobre os equívocos históricos em torno do papel dele quando me deparei há alguns anos com o livro de Moniz Bandeira: “O governo Goulart – as lutas sociais no Brasil: 1961-1964”, numa edição da Civilização Brasileira, de 1977. Ali, comecei a repensar não só a singularidade da atuação do ex-presidente, como de toda uma geração que lutou, a seu modo, para construir um país soberano e mais justo.
Waldir Pires, protagonista político do Brasil desde o início dos anos 50, foi outro a me fazer repensar o papel do ex-presidente. Já não eram mais leituras, mas o testemunho pessoal de quem conviveu com Goulart até os últimos instantes de sua presença na presidência da República, e que o acompanhou em sua dura experiência de exílio, vivida também por Waldir. Agora, fui surpreendido com uma extraordinária biografia: “João Goulart”, também da Civilização Brasileira, de 2011, do professor Jorge Ferreira, da Universidade Federal Fluminense, já em terceira edição.
João Goulart. Foto: Biblioteca da Presidência da República
Não há a pretensão de produzir uma resenha. O livro já é conhecido. Limito-me, aqui, a impressões, quem sabe a autocríticas, a revisões históricas provocadas pela riqueza do livro. Não tenho, com esse texto, quaisquer pretensões acadêmicas. Diria que ele tem mais uma face militante, de quem está imerso na política e que sobre ela procura refletir para não se ver engolfado por cláusulas pétreas conceituais e nem pelos modismos do momento, o que não é fácil. Quem está na política, corre os dois riscos, e não sei qual o mais prejudicial. Talvez, a rigor, nunca consigamos nos livrar deles.
Goulart, se me lembro bem, aparecia para nós, os que havíamos aderido à luta armada contra a ditadura, com nossas múltiplas concepções estratégicas e táticas, como um reformista da pior espécie – e por reformista entendia-se, então, tanto aqueles que se vinculavam ao PCB, o Partidão, quanto um político burguês, como Goulart. Ou, se quisermos ir adiante na caracterização, como um populista. O populismo, desenvolvendo-se como conceito histórico, pretendeu dar conta de múltiplas experiências da América do Sul, especialmente do Brasil e Argentina, com destaque para as figuras de Vargas e Perón.
Das leituras que fazíamos então, em geral muito aligeiradas, quase restritas a orelhas ou a comentários de terceiros, surgiu com destaque, em 1968, o livro de Octavio Ianni, O colapso do populismo no Brasil. A interpretação dele sobre o golpe de 1964 virou uma espécie de cláusula pétrea – tanto as causas estruturais quanto o diagnóstico dos personagens passaram a ser vistos a partir daquela visão, ao menos para nós, os que divergíamos da linha do Partidão. E o termo populismo passou a explicar o período da emergência das massas urbanas, da industrialização do Brasil, e de manipulação dos trabalhadores por parte das lideranças políticas – lideranças populistas, naturalmente.
Já disse: Moniz Bandeira me salvou dessa armadilha. Me livrou da cláusula pétrea. Quem disse que a idéia de populismo dá conta de tudo e que pode enquadrar cada personagem daquele rico período? Não pode. Não consegue ser um conceito totalizante, por obviedade. Carrega uma boa dose de visão estruturalista, calcada numa abordagem quase estereotipada da luta de classes e que, ao mesmo tempo, subestima a própria capacidade da classe operária por dá-la como absolutamente susceptível à manipulação de líderes que não tinham quaisquer compromissos com a melhoria real das condições de vida do povo, salvo para aproveitar-se dele. Curiosamente, uma abordagem marxista que desconsiderava a possibilidade de intervenção política da classe operária, tão subserviente aos líderes populistas.
O livro de Jorge Ferreira é outra excepcional contribuição ao entendimento do período, e repõe a figura de Goulart com outro olhar, como um político profundamente comprometido e ligado aos trabalhadores durante toda sua vida, sem desconhecer suas contradições, ou suas ambigüidades, como ele a chama. Contradições que não faltam a nenhuma pessoa humana e naturalmente a nenhuma liderança política.
Ajudou-me em minha jornada de compreensão do Brasil recente, a entender como foi possível, em tão pouco tempo, construir-se um País industrial, à base de um projeto que pressupunha também distribuição de renda, projeto que fixou seus objetivos mais claramente a partir de 1950, quando Goulart começa a despontar com uma liderança profundamente vinculada aos trabalhadores, para além de sua condição pessoal. Goulart era um homem rico, como se sabe, e sempre teve talento para ganhar dinheiro, como a biografia revela. E revela, também, que nunca se apropriou do dinheiro público para proveito pessoal.
Esse projeto de construção de um Brasil soberano e socialmente justo, pretensão do governo Goulart, especialmente em sua fase final, que dava seqüência ao projeto de Vargas, foi interrompido pelo golpe militar – golpe que teve o apoio de políticos de direita, da Igreja Católica, e de vastos setores das camadas médias, assustadas com a movimentação operária e popular, com as articulações e movimentos de políticos de esquerda, como Brizola e Julião, para citar dois deles. A discussão sobre as causas do golpe ainda se arrastarão por algum tempo, certamente.
É inegável, no entanto, que Goulart, como diria Darcy Ribeiro, cai por seus méritos, e não por seus defeitos. Na fase final de seu governo, viu-se numa encruzilhada: ou rendia-se à proposta dos militares de afastar-se dos comunistas, de Arraes, de Julião, de Brizola e tantos outros setores de esquerda, ou, então, levava à frente a idéia de implantar as chamadas reformas de base, entre as quais a reforma agrária. Com o comício de 13 de março de 1964, ele revelou ao país sua posição.
Parecia que a presença daquelas 200 mil pessoas no Comício da Central do Brasil evidenciava uma correlação de forças favorável às reformas de base. Dali em diante, tudo correu aceleradamente, e Goulart cai no dia 1º de abril, e segue logo depois para o Uruguai, certo de que não havia quaisquer condições para a resistência, nem entre os militares, nem entre as forças de esquerda, como se comprovou.
Durante algum tempo, uma historiografia precária, fundada numa visão individualista da história, pretendeu culpá-lo pela não resistência. Os fatos que se seguiram demonstraram o quanto era inconsistente essa interpretação. O chamado esquema militar do governo não existia – e aí, sem dúvida, houve falhas, e graves, de Goulart – e não havia praticamente nada de organização popular para o enfrentamento do golpe – nem os “grupos dos onze” de Brizola, nem as ligas camponesas de Julião, nem as forças sindicais, nada. Os golpistas e os EUA haviam se preparado para uma resistência prolongada. Equivocaram-se. Havia mais barulho que realidade.
É evidente que a movimentação das massas era ampla. Que o proletariado urbano dava seus mais fortes sinais de organização do pós-guerra. Que havia um início de movimentação de trabalhadores e camponeses no campo. Nada, no entanto, que autorizasse a visão triunfalista de um Brizola, de um Julião, até de um Prestes. Goulart, naquele 13 de março, já estava isolado. O golpe caminhava celeremente, tinha bases sociais, e apesar de ter sido deflagrado por um general desacreditado, Olímpio Mourão Filho, e parecer sem força nas primeiras horas, consolidou-se diante da fraqueza e desorganização das chamadas forças populares e de esquerda.
A revolução faltou ao encontro. Não resisto à tentação de recuperar título de um livro de Daniel Aarão Reis Filho. Dito de outra maneira, o que chamávamos revolução brasileira, nossa musa inspiradora, sofria uma derrota de grande impacto. Um impacto de 21 anos. A democracia só voltaria em 1985. Vivemos, de lá até os dias de hoje, o maior período democrático de nossa história, que devemos celebrar.
E quero dizer, ainda, para brincar com as palavras, se me permitirem, que a revolução voltou a nos encontrar. E pelos caminhos da democracia, do debate de projetos, e da consolidação de um desses projetos, ao menos nesses últimos quase dez anos, desde que Lula venceu as eleições, por decisão livre do povo brasileiro.
O projeto neoliberal foi derrotado. E desenvolve-se, desde lá, o que alguns importantes autores, como Juarez Guimarães, chamam revolução democrática. E há, no curso dessa revolução, onde se afirmam direitos democráticos, onde há distribuição de renda como nunca houvera antes, onde há emprego, onde se afirma a soberania do País, um reencontro de gerações. Não sei se ironia da história, mas pode-se afirmar que muito daquilo que foi sonhado por Goulart, por aquele projeto generoso dos anos 50, está em curso hoje.
Finalizo, embora desnecessário pelo valor intrínseco da obra, agradecendo ao professor Jorge Ferreira.  É uma bela obra. Para além desses aspectos mais gerais, de natureza política, dá uma lição de como fazer uma biografia. O indivíduo surge com toda sua complexidade, revelado em sua singularidade, em sua humanidade, mas nunca desconectado do quadro histórico mais amplo.
No singular, entre tantas revelações, é dramática a revelação de que Goulart morreu de tristeza, um mal geral que Freud a seu modo detectou. Um mal específico, e dele me falou também Waldir, que costuma afetar os exilados quando não conseguem voltar à sua terra natal. Nunca os militares permitiram que Goulart pisasse novamente o seu solo. Só pôde fazê-lo morto. Um homem a quem o País deve muito, com sua memória aos poucos recuperada.



terça-feira, 24 de abril de 2012

Legiões tenentistas pós-1930


Legiões tenentistas

  1. Legião Mineira (Legião Liberal de Minas)

Em fevereiro de 1931, Capanema lançou, juntamente com Campos e Amaro Lanari, o manifesto de fundação, em Minas, da Legião de Outubro, organização que vinha sendo criada em vários estados com o beneplácito do Governo Provisório. Constituída como um corpo paramilitar, a Legião Liberal Mineira, tal como ficou conhecida no estado, adotou não apenas princípios de caráter fascista em seu programa, como também o uniforme de camisas pardas que envergavam os nazistas, na época em ascensão na Alemanha.
Na qualidade de secretário do Interior, Capanema valeu-se dos recursos de poder que seu cargo lhe conferia e dos instrumentos típicos de pressão da política tradicional para implantar a Legião de Outubro em Minas Gerais. No intuito de desmobilizar a máquina política de Bernardes - alvo principal da Legião - Capanema chegou a aliar-se a elementos dissidentes do PRM que haviam apoiado em 1930 a Concentração Conservadora e a candidatura oficial de Júlio Prestes. O PRM reagiu à ofensiva, buscando apoio junto ao Governo Provisório e convocando seus correligionários para uma convenção regional do partido em 15 de agosto, em Belo Horizonte. Três dias mais tarde, o conflito entre o PRM e a Legião de Outubro chegou ao ponto culminante com a tentativa de deposição do presidente Olegário Maciel, articulada a partir do Rio de Janeiro por Osvaldo Aranha, com o apoio velado de Getúlio Vargas.
Capanema comandou a reação ao golpe. Após tomar conhecimento de que o coronel Júlio Pacheco de Assis, comandante do 12º Regimento de Infantaria de Belo Horizonte, tencionava assumir o governo do estado, guarneceu o palácio da Liberdade, sede do governo, com tropas da Força Pública mineira. Ao mesmo tempo, alertou Francisco Campos, no Rio de Janeiro, para o movimento. Algumas horas mais tarde, o coronel Pacheco de Assis desmobilizou suas tropas em cumprimento de ordens enviadas pelo ministro da Guerra, o general José Fernandes Leite de Castro.
Aos acontecimentos de agosto, seguiu-se um período de trégua e negociações entre o governo mineiro e a facção bernardista. Com vistas à pacificação do estado, Vargas procurou recuperar a confiança de Olegário Maciel, a fim de evitar uma possível aliança entre Minas Gerais e São Paulo, principal foco de oposição no novo regime.
Nos meses seguintes, Capanema atuou como principal intermediário entre Vargas e Maciel, reaproximando Minas do Governo Provisório. Desempenhou ainda importante papel nas negociações que deram origem ao chamado "Acordo Mineiro", em fevereiro de 1932. O acordo, assinado por Capanema (pelo governo de Minas), Venceslau Brás (pelo conselho supremo da Legião de Outubro) e Virgílio de Melo Franco (pela comissão executiva do PRM), deu origem ao Partido Social Nacionalista, efêmera tentativa de fusão da Legião Mineira com o PRM. O acordo deu ainda a Bernardes o direito de indicar o nome dos novos secretários estaduais da Agricultura e de Finanças.
O apoio de Minas a Getúlio Vargas foi posto à prova em julho de 1932, quando eclodiu a Revolução Constitucionalista de São Paulo. Informado pelo general Pedro Aurélio de Góis Monteiro, Capanema tomou conhecimento da deflagração do levante, enviando imediatamente um destacamento policial para ocupar o túnel ferroviário situado perto da cidade de Passa Quatro, junto à divisa de Minas Gerais com São Paulo. Com essa medida, as tropas paulistas foram impedidas de prosseguir o avanço em direção a Minas Gerais. Em fins de julho, Capanema interceptou e decifrou um aviso secreto de João Neves da Fontoura, solicitando a Filipe de Oliveira que concitasse Minas e Rio Grande do Sul à união com São Paulo.
No entanto, em princípio de agosto, após o fracasso das articulações de Artur Bernardes em favor dos revoltosos, os paulistas propuseram a Olegário Maciel negociações em separado sobre o conflito. Capanema foi encarregado por Maciel de reunir-se com um emissário paulista, Fernando Costa, em Três Corações. A proposta paulista previa a derrubada de Getúlio Vargas e a instituição de um governo federal chefiado por Olegário Maciel. Em resposta, Capanema reafirmou o compromisso de Maciel com Vargas e a convicção de que seria cumprida a promessa de constitucionalização do país feita pelo chefe do Governo Provisório. São Paulo continuou a luta, praticamente isolado, capitulando finalmente no início de outubro de 1932.
Com o término da guerra civil paulista, Capanema e Maciel trataram de organizar um novo partido situacionista em Minas, em associação com os líderes políticos que até então vinham apoiando o governo do estado e Getúlio Vargas. Em janeiro de 1933, fundaram o Partido Progressista (PP) de Minas Gerais, juntamente com Antônio Carlos, Venceslau Brás, José Monteiro Ribeiro Junqueira e Virgílio de Melo Franco.
O PRM tornou-se definitivamente um partido de oposição, composto basicamente pelos correligionários de Bernardes, exilado do país juntamente com Mário Brant e Djalma Pinheiro Chagas, em decorrência de seu apoio à Revolução Constitucionalista.
Francisco Campos e Amaro Lanari, fundadores da extinta Legião Liberal Mineira juntamente com Capanema, seguiram caminhos políticos diferentes. Lanari ingressou na Ação Integralista Brasileira, onde mais tarde veio a tornar-se um quadro destacado. Francisco Campos, por sua vez, marginalizado do jogo político desde sua saída do Ministério da Justiça em 1932, rompeu com Capanema em 1933, às vesperas das eleições para a Constituinte, acusando-o de haver prejudicado sua candidatura em Pitangui, base política de ambos. Em 1937, Campos ressurgiria no cenário político nacional como autor da Constituição do Estado Novo, dita Polaca.
Em agosto de 1931 Capanema liderou a reação a um golpe deflagrado na capital mineira para afastar Olegário Maciel do governo. O golpe, que contou com a participação de políticos mineiros descontentes com os rumos da política estadual, foi articulado pelo ministro Osvaldo Aranha e contou com a conivência do próprio presidente da República. Meses depois Capanema atuou como intermediário no processo de reaproximação entre Vargas e Olegário. No início de 1932 participou da fundação do Partido Social Nacionalista (PSN), surgido da tentativa de pacificação da política mineira. Em julho daquele mesmo ano, porém, o chamado "acordo mineiro" foi definitivamente rompido quando elementos ligados ao PRM apoiaram o movimento constitucionalista, deflagrado em São Paulo contra o governo federal. Capanema e Olegário Maciel, que nessa ocasião mantiveram-se ao lado de Vargas e deram combate aos rebeldes paulistas, participariam, em janeiro do ano seguinte, de mais uma experiência partidária, o Partido Progressista (PP), que reunia os setores políticos mineiros alinhados aos governos estadual e federal.


  1. Legião Revolucionária

Legionários:
Cessada a luta pelas armas, leal e perigosa, verificou-se o triste fenômeno previsto: a luta pelo poder, determinada não pelo desejo de bem servir a pátria, mas para satisfazer vaidades doentias e amparar inconfessáveis ambições de classe.
A obra mais rude não foi, por certo, a das batalhas.
Irmãos valentes com peito aberto as balas, morriam tranqüilos, no silêncio do sertão, absolvidos dos seus erros, ou pagos de seus sacrifícios, pela convicção de que o sangue derramado era a argamassa de um novo Brasil.

Morriam tranqüilos porque a voz da metralha e a miséria da guerra ensina a não desejar uma vida que custe o valor das nossas convicções.
Eram os soldados da Revolução, saídos das casernas ou dos seus lares, convencidos de que partiam para nunca mais voltar.
Hoje, cessada a luta, desaparecem, nas penumbras da modéstia e do esquecimento, esses bravos companheiros das horas incertas. E surgem ávidos, palavrosos, acomodatícios, vultos moral e fisicamente disformes, de ventre largo e alto, gulosos de manjares, de honras e negociatas. E eles tecem, na oficina de suas ambições, os boatos terroristas que alarmam esta boa gente de São Paulo.
E maquinam, concertam e lançam as pequenas intrigas que se refletem no crédito exterior do Brasil. Porque eles querem subir. Porque o governo revolucionário é a sentinela dos dinheiros públicos. Previsto era o fenômeno. Conhecido era o ventre que o havia de gerar nessa gestação de 40 anos de descalabro republicano.
Daí, senhores, a idéia de se organizar a Legião Revolucionária. Ela será o gradil que enjaulará essas feras da fortuna pública. No Paraná, na Clevelândia, em todos os Estados do Norte e do Sul, num percurso de 4.000 quilômetros, maior do que a distância que separa o pólo norte do pólo sul, milhares de cruzes solitárias, com seus braços estendidos ao céu, clamam justiça e pedem energia para que a carne, dolorosamente despojada dos ossos que a sustinham, não tenha desaparecido em vão. Esse o motivo que exigiu a vossa organização. Essa a necessidade de se fortalecerem as legiões revolucionárias de cada município. A força que aqui nos mostra congregada, no momento, é a vossa parcela de boa vontade, de dedicação, de patriotismo. É uma pedra humana da muralha humana que proibirá aos políticos o acesso imediato ao poder. Porque os políticos devem ao Brasil alguns instantes de repouso. Eles são um prolongamento dos processos e dos ideais dos vencidos de outubro. Quem percorrer, como eu percorri, o Brasil em todos os sentidos, quem visitar as margens do Tocantins e do Araguaia, as caudais da Parnaíba, as inúmeras florestas de carnaúba, de babaçu, dos pinheirais do Paraná, os diamantes do Graça, do Manso; as chapadas de cristal – quem visse, como eu vi, extrair platina a enxada, na Bahia, e quem meditar no rolar incessante das nossas quedas d’água, desde o fio humilde que se alonga na quebrada das serras, até o enorme São Francisco, a Iguaçu, e a incomparável Guaira, cuja força ultrapassa centenas de milhares de cavalos a vapor, pode sentir pena dos políticos que se foram, mas não desejará experimentar o tino dos políticos que ficaram. Efêmero e passageiro querem que seja o governo revolucionário de São Paulo os que, despidos de credenciais sonham com a herança do PRP. Efêmera e passageira deve ser apenas a miséria em que os antigos senhores de escravos brancos pretendem manter o nosso povo esfarrapado. Para acautelar interesses coletivos. Para evitar que o povo que já deu alguns passos para frente se irrite e desespere ao perceber que ridículos maquiáveis de casaca e cartola tentam fazê-lo retroceder de novo. A Revolução Brasileira não pode consentir numa simples substituição de homens no poder.

Miguel Costa foi um grande entusiasta para a Revolução Constitucionalista de 1932. Ele pediu o desligamento dos cargos que assumia e a reforma do posto de general do Exército, porque ele dizia que não podia agir contra um governo do qual fazia parte. Por isso, desejava lutar contra a ditadura de Getúlio Vargas, apenas na posição de um cidadão brasileiro. Essa decisão estimulou-o a fundar a Legião Revolucionária, o que viria posteriormente a se transformar no Partido Popular Paulista. Miguel Costa foi preso no dia 9 de julho de 1932. Mantiveram-no encarcerado por 18 meses.




  1. Clube 3 de Outubro

Clube 3 de Outubro


Organização política fundada em fevereiro de 1931, no Rio de Janeiro, por elementos vinculados ao movimento tenentista, em apoio ao Governo Provisório de Getúlio Vargas.
Vitoriosa a Revolução de 1930e instalado o novo governo, logo surgiram atritos entre as forças que sustentavam Vargas. De um lado, colocavam-se os "tenentes", que se auto-intitulavam revolucionários autênticos; de outro, postavam-se os políticos ligados às oligarquias dissidentes que haviam dado apoio à revolução. Nesse ambiente, os principais líderes da facção tenentista decidiram criar uma organização política que sistematizasse as propostas do grupo e unificasse sua atuação. O Clube 3 de Outubro, assim denominado em homenagem à data do início da Revolução de 1930, defendendia em princípio o prolongamento do Governo Provisório e o adiamento da reconstitucionalizacão do país. Sua primeira diretoria foi formada por Góes Monteiro (presidente), Pedro Ernesto (primeiro vice-presidente), Herculino Cascardo (segundo vice-presidente), Oswaldo Aranha (terceiro vice-presidente), Augusto do Amaral Peixoto (tesoureiro), Temístocles Brandão Cavalcanti (primeiro-secretário) e Hugo Napoleão (segundo-secretário).
Em junho de 1931, o general Góes Monteiro renunciou e Pedro Ernesto assumiu seu lugar. Iniciou-se, então, o período de maior prestígio do Clube. Por sua influência, diversos "tenentes" foram nomeados interventores federais nos estados. O próprio Pedro Ernesto, que não era militar, mais era considerado um "tenente civil", assumiu o governo do Distrito Federal.
Em fevereiro de 1932, o Clube divulgou o esboço de seu programa, que orientaria a atuação de seus integrantes na vida política brasileira. O documento, além de criticar o federalismo oligárquico vigente na República Velha, defendia um governo central forte; a intervenção estatal na economia com o objetivo de modernizá-la; a convivência da representação política de base territorial com a representação corporativa, eleita por associações profissionais reconhecidas pelo governo; a instituição de conselhos técnicos de auxílio ao governo; a eliminação do latifúndio mediante tributação ou simples confisco; a nacionalização de várias atividades econômicas, como os transportes, a exploração dos recursos hídricos e minerais, a administração dos portos etc.; a instituição da previdência social e da legislação trabalhista.
Ainda em fevereiro de 1932, o governo federal, contrariando as pretensões do Clube, promulgou o Código Eleitoral, primeiro passo para a reconstitucionalização do país reivindicada pelos grupos políticos tradicionais. Membros do Clube envolveram-se, então, no empastelamento do Diário Carioca, jornal alinhado às forças constitucionalistas. Esse fato desencadeou séria crise política e marcou o início do declínio da influência do Clube junto ao governo federal. Em julho seguinte, quando se realizou sua primeira Convenção Nacional, a organização já dava sinais nítidos de esvaziamento. Entre julho e outubro, com a deflagração da Revolução Constitucionalista em São Paulo, suas atividades foram quase inteiramente interrompidas. A partir de outubro o Clube ressurgiu, defendendo princípios claramente autoritários e dando mostras de exacerbado nacionalismo, o que resultou inclusive no afastamento de várias de suas antigas lideranças.
Em julho de 1934, na época da eleição do presidente da República pela Assembléia Nacional Constituinte, o Clube 3 de Outubro patrocinou a candidatura do general Góes Monteiro. Essa candidatura, porém, não obteve o apoio desejado e foi retirada antes da eleição.
Em abril de 1935, por resolução de seus próprios membros, o Clube 3 de Outubro foi dissolvido.

quarta-feira, 18 de abril de 2012

Disciplina com sentido

Disciplina com sentido

Fazer da história um campo de conhecimento com ‘razão de ser’ para toda a sociedade é um dos grandes desafios que os historiadores brasileiros têm pela frente. A questão está no centro das reflexões apresentadas por Keila Grinberg na coluna deste mês.
Por: Keila Grinberg
Publicado em 13/04/2012 | Atualizado em 13/04/2012
Disciplina com sentido
Mapa do Brasil de 1519 feito pelos cartógrafos portugueses Pedro Reinel, Jorge Reinel e Lopo Homem. Tornar a história uma matéria de interesse para os estudantes brasileiros é um dos grandes desafios de nossos historiadores. (imagem: Wikimedia Commons)
A repercussão causada pela coluna do mês passado (‘Historiadores pra quê?’), sobre a formação de historiadores e os rumos da profissão no Brasil, comparada à situação aqui nos Estados Unidos, deu o que pensar. Que o tema é sensível a todos nós, não é novidade. Que é complexo – impossível dar conta de todos os aspectos em um texto para esta coluna –, também não. Sem pretender reproduzir novamente toda a discussão, não queria deixar de responder aos comentários postados no site e nas redes sociais.
Muitos mencionaram os baixos salários dos professores da educação básica como fator fundamental para que a maioria dos graduados preferisse a carreira acadêmica à escolar. Ninguém nega que os salários são mesmo baixos, muito diferentes dos de professores universitários (ao menos daqueles que trabalham na rede pública federal, ou estadual, em alguns casos). O valor dos salários e as poucas perspectivas de crescimento profissional tiram da sala de aula muita gente que adora escola. Eu sou uma delas. Mas reduzir o problema à questão do salário não me parece suficiente.
É crônica a necessidade de professores de física e química no ensino médio, mas nem por isso inexistem mestrados profissionais ligados ao ensino nessas áreas
Afinal, os salários de professores de matemática e ciências são iguais aos de professores de história. É crônica a necessidade de professores de disciplinas como física e química no ensino médio, mas nem por isso inexistem mestrados profissionais ligados ao ensino nessas áreas. Para dar aulas de história, ao contrário, apesar de todas as dificuldades, não faltam professores.
No concurso público para professor de história em Curitiba em 2007 havia 1.052 candidatos para 141 vagas; em Belo Horizonte, em concurso para professor da educação básica em 2010, a relação candidato-vaga em história foi de 38,02 (enquanto em língua portuguesa foi de 34,42 e em ciências e biologia, de 26,77). E continuamos sem mestrados profissionais na nossa área.
Recentemente, Carlos Fico, coordenador da área de história na Capes e professor da Universidade Federal do Rio de Janeiro, também mencionou o assunto em seu blogue. A continuar a expansão dos programas de pós-graduação, o momento para investimento no campo não poderia ser mais propício.
Mas, se a questão da formação e remuneração dos professores afeta os profissionais da educação básica como um todo, é inegável que, nessa discussão sobre o campo de atuação do profissional da história, existam questões específicas à nossa área. E era a elas que Anthony Grafton se referia, ao publicar a série de três artigos (o primeiro em conjunto com Jim Grossman) sobre o que chamou de “plano B” do campo de trabalho do historiador nos Estados Unidos.
Sala de aula
Nas salas de aula brasileiras, professores de ensino fundamental e médio lidam com um número cada vez maior de alunos para os quais a história é apenas mais uma disciplina sem sentido. (foto: Joseph Barillari/ Wikimedia Commons – CC BY-SA 3.0)
É a isso também que se refere Guilherme Pereira das Neves no generoso e-mail que me enviou sobre a coluna. Professor da Universidade Federal Fluminense e coordenador da área de história na Capes entre 2005 e 2007, estudioso do assunto há tempos, Guilherme aprofundou não só os pontos que abordei, mas também a discussão desencadeada por Grafton, elencando os elementos que diferenciariam a situação vivida no Brasil daquela nos Estados Unidos.
Segundo ele, no Brasil, a conjugação de uma sociedade cuja população era majoritariamente analfabeta, as heranças patrimonialistas e os sistemas de poder autoritários teriam garantido para a história “um lugar completamente periférico e decorativo na construção do país”. Esse lugar, no entanto, não teria deixado a história de fora do processo de institucionalização da pós-graduação e da pesquisa no país, ocorrido com a criação respectivamente da Capes e do CNPq, em 1951.
As duas instituições, “por um certo ângulo, correspondiam às necessidades de um país em crescimento acelerado, num momento de intensas transformações tecnológicas e de agudas tensões políticas (...). A história (e suas congêneres) nunca constituíram, como tantas vezes reclamamos, prioridades de tais iniciativas, mas não pôde ser deixada de fora, não só porque era inviável descartar a noção ocidental predominante de um conhecimento humanístico amplo, como, sobretudo, porque seus praticantes estavam convencidos (ou percebiam as vantagens que daí advinham) de que a história era uma ciência, nem mais, nem menos, como disse J.B. Bury no final do século 19.” 

História como ciência

É justamente na definição da história como ciência que Guilherme Pereira das Neves centra seu principal ponto de reflexão. Conjugada à produção de mestres e doutores em massa, todos com prazo pré-definido para concluir suas dissertações e teses, e à produção em massa de artigos, livros e capítulos de livro, a aquisição de uma cultura histórica passou a ser menos importante do que ganhar mais pontos para seus programas de pós-graduação.
A aquisição de uma cultura histórica passou a ser menos importante do que ganhar mais pontos para programas de pós-graduação
Em suas palavras: "Para mim, um dos elementos decisivos para que isso tenha ocorrido (ou esteja ocorrendo) resulta da atitude dos próprios historiadores diante da história. Considerá-la uma ciência ‘não mais, nem menos’ significa colocá-la no mesmo plano de qualquer outra disciplina com um campo definido e uma metodologia específica. Significa ignorar que, no mundo contemporâneo, que se desfaz das travas da tradição e que perde os referenciais eternos fornecidos sobretudo pela religião, a vida coletiva precisa ser discutida, pensada, argumentada. E, nessa discussão, os argumentos são de natureza sobretudo histórica. Portanto, desfazer-se do plano B, como propõem Grafton e Grossman, não corresponde apenas à aquisição da consciência das múltiplas possibilidades de emprego que o conhecimento histórico proporciona, muito além da via ápia constituída pela segura posição de professor universitário efetivo. Corresponde igualmente a um questionamento da relação que os historiadores estabeleceram com a história, do lugar que a história ocupa na sociedade e, ainda, do que a sociedade pretende para si mesma. (...)”
“No entanto, enquanto no Brasil a universidade continuar a produzir uma história ensimesmada, insípida como água destilada de laboratório – porque se acredita científica –, e o grande público (se é que ele existe além da tela de TV) acreditar que a história é permanente reencenação (...), não haverá nem plano B e nem mesmo plano A. Haverá apenas, de um lado, os privilegiados professores do ensino superior público – embora tiranizados por regras cada vez mais estritas, destinadas a promover interesses e vantagens estranhas ao conhecimento – e, do outro, os marginalizados professores das escolas estaduais e municipais, tentando lidar com um número cada vez maior de alunos para os quais história constitui apenas o nome de mais uma disciplina sem sentido."
Como transformar a história em uma disciplina com sentido – para professores universitários, pós-graduandos, professores das escolas de ensino fundamental e médio, alunos, e sobretudo, para a sociedade – talvez seja, esse sim, nosso maior desafio. 
 
Keila Grinberg
Departamento de História, 
Universidade Federal do Estado do Rio de Janeiro (UNIRIO)
Pós-doutoramento na Universidade de Michigan (bolsista da Capes)
http://cienciahoje.uol.com.br/colunas/em-tempo/disciplina-com-sentido
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segunda-feira, 16 de abril de 2012

10 soluções para melhorar o Brasil

10 soluções para melhorar o Brasil (que funcionaram na China)

O Primeiro Ministro da China, Wen Jiabao, visitou o Brasil recentemente pela primeira vez e supreendeu pelo conhecimento que tem sobre nosso país, segundo ele, devido o aumento da amizade e dos negócios entre Brasil e China, vem estudando nossa cultura, nosso povo, desenvolvimento e nosso governo nos últimos 5 anos e, por isso aproveitou a visita de acordos comerciais para lançar algumas sugestões que, segundo ele, foram responsáveis pelas mudanças e pelo crescimento estrondoso da China nos últimos anos.

Durante uma de suas conversas com a Presidente Dilma e seus ministros, Wen foi enfático no que ele chama de "Solução para os paises emergentes", que é o caso do Brasil, China, Índia e outros países que entraram em grande fase de crescimento nos últimos anos, sendo a China a líder absoluta nessa fila.

O que o ministro aponta como principal ponto para um país como o Brasil desponte a crescer fortemente???

Mudanças imediatas na administração do país, sendo a principal delas, a eliminação de fatores hipócritas, onde as leis insistem em ver o lado teórico e não o prático e real de suas consequèncias, sendo que, para isso o país terá que sofrer mudanças drásticas em seus pontos de vista atuais, como fez a China nos últimos 20 anos, sendo os 10 principais os que se seguem:

1) PENA DE MORTE PARA CRIMES HEDIONDOS COMPROVADOS:
Fundamento: Um governo tem que deixar de lado a hipocrisia quando toca neste assunto, um criminoso não pode ser tratado como celebridade, criminosos reincidentes já tiveram sua chance de mudar e não mudaram, portanto, não merecem tanto empenho do governo, nem a sociedade honesta e trabalhadora merece conviver com tamanha impunidade e medo, citou alguns exemplos bem claros: Maníaco do parque, Lindeberg, Suzane Richthofen, Beira Mar, Elias Maluco, etc. Eliminando os bandidos mais perigosos, os demais terão mais receio em praticarem seus crimes, isso refletirá imediatamente na segurança pública do país e na sociedade, principalmente na redução drástica com os gastos públicos em segurança. A longo prazo isso também reflete na cultura e comportamento de um povo.

2) PUNIÇÃO SEVERA PARA POLÍTICOS CORRUPTOS:
Fundamento: É estarrecedor saber que o Brasil tem o 2º maior índice de corrupção do mundo, perdendo apenas para a Nigéria, porém, comparando os dois países o Brasil está em uma situação bem pior, já que não pune nenhum político corrupto como deveria, o Brasil é o único país do mundo que não tem absolutamente nenhum político preso por corrupção, portanto, está clara a razão dessa praga (a corrupção) estar cada vez pior no país, já que nenhuma providência é tomada, na China, corrupção comprovada é punida com pena de morte ou prisão perpétua, além é óbvio, da imediata devolução aos cofres públicos dos valores roubados. O ministro chinês fez uma pequena citação que apenas nos últimos 5 anos, o Brasil já computou um desvio de verbas públicas de quase 100 bilhões de reais, o que permitiria investimentos de reflexo nacional. Ou seja, algo está errado e precisa ser mudado imediatamente.

3) QUINTUPLICAR O INVESTIMENTO EM EDUCAÇÃO:
Fundamento: Um país que quer crescer precisa produzir os melhores profissionais do mundo e isso só é possível quando o país investe no mínimo 5 vezes mais do que o Brasil tem investido hoje em educação, caso contrário, o país fica emperrado, aqueles que poderiam ser grandes profissionais, acabam perdidos no mercado de trabalho por falta da base que deveria prepara-los, com o tempo, é normal a mão de obra especializada passar a ser importada, o que vem ocorrendo a cada vez mais no Brasil, principalmente nos últimos 5 anos quando o país passou a crescer em passos mais largos.

4) REDUÇÃO DRÁSTICA DA CARGA TRIBUTÁRIA E REFORMA TRIBUTÁRIA IMEDIATA:
Fundamento: A China e outros países desenvolvidos como os EUA já comprovaram que o crescimento do país não necessita da exploração das suas indústrias e empresas em geral, bem pelo contrário, o estado precisa ser aliado e não inimigo das empresas, afinal, é do trabalho destas empresas que o país tira seu sustendo para crescer e devolver em qualidade de vida para seus cidadãos, a carga tributária do Brasil é injusta e desorganizada e enquanto não houver uma mudança drástica, as empresas não conseguirão competir com o mercado externo e o interno ficará emperrado como já é.

5) REDUÇÃO DE PELO MENOS 80% DOS SALÁRIOS DOS POLÍTICOS BRASILEIROS:
Fundamento: Os Brasil tem os políticos mais caros do mundo, isso ocorre pela cultura da malandragem instalada após a democrácia desorganizada que tomou posse a partir dos anos 90 e pela falta de regras no quesito salário do político. O político precisa entender que é um funcionário público como qualquer outro, com a função de empregar seu trabalho e seus conhecimentos em prol do seu país e não um "rei" como se vêem atualmente, a constituição precisa definir um teto salarial compatível com os demais funcionários públicos e a partir dai, os aumentos seguirem o salário mínimo padrão do país, na China um deputado custa menos de 10% do que um deputado brasileiro. A revolta da nação com essa balbúrdia com o dinheiro público, com o abuso de mega-salários, sem a devida correspondência em soluções para o povo, causa ainda mais prejuízos ao estado, pois um povo sentindo-se roubado pelos seus líderes políticos, perde a percepção do que é certo, justo, honesto e honrado.

6) DESBUROCRATIZAÇÃO IMEDIATA:
Fundamento: O Brasil sempre foi o país mais complexo em matéria de negociação, segundo Wen, a China é hoje o maior exportador de manufaturados do mundo, ultrapassando os EUA em 2010 e sem nenhuma dúvida, a China e os EUA consideram o Brasil, o país mais burocrata, tanto na importação, quanto exportação, além é claro, do seu mercado interno, para tudo existem dezenas de barreiras impedindo a negocição que acabam em muitas vezes barrando o desenvolvimento das empresas e refletindo diretamente no desenvolvimento do país, isso é um caso urgente para ser solucionado.
7) RECUPERAÇÃO DO APAGÃO DE INVESTIMENTOS DOS ÚLTIMOS 50 ANOS:
Fundamento: O Brasil sofreu um forte apagão de investimentos nos últimos 50 anos, isso é um fato comprovado, investimentos em infraestrutura, educação, cultura e praticamente todas as demais áreas relacionadas ao estado, isso impediu o crescimento do país e seguirá impedindo por no mínimo mais 50 anos se o Brasil não tomar atitudes fortes hoje. O Brasil tem tudo para ser um grande líder mundial, tem território, não sofre desastres naturais severos, vive em paz com o resto do mundo, mostrou-se inteligente ao sair ileso da grande crise financeira de 2008, porém, precisa ter a coragem de superar suas adversidades políticas e aprender investir corretamente naquilo que mais necessita.

8) INVESTIR FORTEMENTE NA MUDANÇA DE CULTURA DO POVO:
Fundamento: A grande massa do povo brasileiro não acredita mais no governo, nem nos seus políticos, não respeita as instituições, não acredita em suas leis, nem na sua própria cultura, acostumou-se com a desordem governamental e passou a ver como normal as notícias trágicas sobre corrupção, violência, etc, portanto, o Brasil precisa investir na cultura brasileira, iniciando pelas escolas, empresas, igrejas, instituições públicas e assim por diante, começando pela educação patriótica, afinal, um grande povo precisa amar e honrar seu grande país, senão é invevitável que à longo prazo, comecem surgir milícias armadas na busca de espaço e poder paralelo ao governo, ainda mais, sendo o Brasil um país de proporções continentais como é.

9) INVESTIR EM CIÊNCIA E TECNOLOGIA IMEDIATAMENTE:
Fundamento: Proporcionalmente, o Brasil investe menos de 8% do que a China em ciência e tecnologia, isso começou a ter forte reflexo no país nos últimos 5 anos, quando o Brasil passou a crescer e aparecer no mundo como um país emergente e que vai crescer muito a partir de agora, porém, não tem engenheiria de qualidade, não tem medicina de qualidade, tecnologia de qualidade, não tem profissionais com formação de qualidade para concorrer com os países desenvolvidos que encontram-se mais de 20 anos a frente do Brasil, isso é um fato e precisa ser visto imediatamente, pois reflete diretamente no desenvolvimento de toda nação.

10) MENORIDADE PENAL E TRABALHISTA A PARTIR DE 16 ANOS (o mundo está envelhecendo...):
Fundamento: O Brasil é um dos poucos países que ainda possuem a cultura de tratar jovens de 15 a 18 anos como crianças, não responsáveis pelos seus atos, além de proibi-las de oferecer sua mão de obra, isso é erro fatal para toda a sociedade, afinal, o Brasil, assim como a grande maioria dos paises, estão envelhecendo e precisam mais do que  nunca de mão de obra renovada, além do que, essa contradição hipócrita da lei, serve apenas para criar bandidos perigosos, que ao atingirem 18 anos, estão formados para o crime, já que não puderam trabalhar e buscaram apenas no crime sua formação. Na China, jovens tem permissão do governo para trabalhar normalmente (não apenas como estagiários como no Brasil) a partir dos 15 anos, desde que continuem estudando e, sim, respondem pelos seus crimes normalmente, como qualquer adulto com mais de 18 anos.

Este texto foi retirado do Blog do jornalista Joemir Beting da Rede Bandeirantes, segundo Joelmir, o texto não está na íntegra, já que não foi permitida a sua divulgação nos meios de comunicação, também, segundo o assessor que permitiu o "vazamento" do relatório da conversa com o primeiro ministro chinês, o governo brasileiro optou por não divulgar estas informações por não se tratarem da real missão do primeiro ministro ao Brasil, que era apenas para tratar de assuntos comerciais entre os dois paises, mas como diz Joelmir, para bom entendedor, apenas isso basta, ou seja, não há interesse do governo em divulgar esses fatos, pois, para o PT e demais governantes, do jeito que o Brasil se encontra é exatamente o jeito que eles sempre sonharam, um país que reina a impunidade política e o povo não tem vez nem voz, até porque, essa cultura que o sr Wen tanto cita, é exatamente o que poderia causar problemas na atual política brasileira, portanto, um povo acomodado e que apenas assiste de camarote o corrupto sacar dinheiro do seu próprio bolso, é o sonho de qualquer criminoso do colarinho branco.

Joelmir Beting

segunda-feira, 2 de abril de 2012

Um novo retrato de Jango

Um novo retrato de Jango

Quase meio século depois do golpe de 1964, João Goulart começa a vencer o estereótipo do presidente que só tinha defeitos

PAULO MOREIRA LEITE

FIM TRISTE Goulart em 1967, no Uruguai. Ele fez várias tentativas de voltar ao Brasil, mas morreu no exílio (Foto: Ag. RBS)
Os brasileiros deveriam aproveitar o próximo sábado, 31 de março, para uma reflexão histórica. Por uma questão de bom-senso democrático, a data, que marca o 48º aniversário do golpe militar de 1964, foi retirada do calendário das comemorações oficiais. É bom que seja assim. A derrota de 31 de março foi absoluta e completa. Embora seja possível recordar bons números de crescimento econômico e apontar várias medidas que modernizaram o país, a essência da questão é outra. Nenhum país tem o direito de celebrar o fim da própria democracia. É útil, porém, tentar entender o que houve.
É compreensível que até hoje o país não tenha sido capaz de fazer o necessário ajuste de contas com João Belchior Marques Goulart, o Jango. Riquíssimo, por herança e pela competência em multiplicar o patrimônio familiar, Jango foi um dos mais populares políticos brasileiros. Nas eleições de 1955, quando candidatos a vice e a presidente recebiam votos em separado, ele conseguiu 3,5 milhões de votos para vice-presidente, contra 3 milhões conferidos ao titular, Juscelino Kubitschek. Poderia ter sido um candidato competitivo contra o furacão Jânio Quadros, em 1960, se JK não tivesse tido o receio de lançar uma criatura capaz de tornar-se maior que o criador. Herdeiro do PTB por decisão de Getúlio Vargas, Jango coordenou os trabalhos dos sindicalistas e estudiosos que formularam as Reformas de Base, o único programa de um partido brasileiro que se tornou motivo de debates entre os eleitores de cima, de baixo e do meio. Carro-chefe do programa, a reforma agrária era apoiada por 72% da população. Num país rural e de agricultura atrasada, distribuição de terra parecia sinônimo de distribuição de renda.
mensagem - Jango (Foto: reprodução)
Jango tinha 42 anos de idade quando assumiu a Presidência, 45 quando a perdeu e 57 quando morreu de infarto no interior da Argentina. Naquele momento, deprimido e preocupado, fazia tratativas para voltar ao Brasil. Em Buenos Aires, o ex-presidente da Bolívia Juan Jose Torres e o general Carlos Pratz, ligado ao presidente Salvador Allende, do Chile, haviam sido assassinados. No Uruguai, a ditadura local prestava qualquer serviço como prova de amizade com a instalada em Brasília, de quem dependia. Depois da morte de Jango, foi preciso pedir autorização ao governo militar para que o corpo fosse enterrado em São Borja, no Rio Grande do Sul. A censura proibiu que emissoras de TV transmitissem reportagens sobre Jango, autorizando somente uma “nota de falecimento”, desde que ela não fosse “repetida sucessivamente”.
O mistério em torno de Jango diz respeito a seu lugar na história. Com uma unanimidade suspeitíssima, típica de quem busca desdenhar o gaúcho barrigudo, que adorava uísque, mulheres e carne vermelha, além de ser uma chaminé ambulante, aliados e inimigos o descrevem como “fraco”, “demagogo”, “despreparado”, “acomodado” e “incompetente”. Como se fosse possível colocar o golpe nas costas de um bode expiatório.
Quando Jango caiu, uma parcela considerável de seus aliados queria fechar o Congresso e convocar uma Constituinte. Outra parcela o considerava moderado demais, um estorvo para o avanço de reivindicações. Os adversários de Jango, que tentaram impedir sua posse, em 1961, depois da renúncia de Jânio, enfim podiam sentir-se vitoriosos. Desde o primeiro dia, articularam um movimento golpista para arrancá-lo do Palácio à força. A Casa Branca, potência que na ocasião era mais que hegemônica nessa parte do mundo, apoiara o golpe com dinheiro, conselhos e, na hora necessária, uma frota de embarcações de guerra.
Jango herdou uma democracia tão enfraquecida que, nos 20 anos anteriores, ocorrera uma tentativa de golpe de Estado a cada triênio. A “incompetência”, a “fraqueza” e o “despreparo” do presidente são apenas uma forma de aludir à dificuldade política para remediar a agonia final daquele regime que, na vida real, poucos estavam empenhados em defender. É sintomático que, em 1961, quando três ministros militares anunciaram que não permitiriam a posse de Jango, o país inteiro tivesse reagido como se fosse a coisa mais natural do mundo. Teria sido mesmo, se Leonel Brizola, o então governador do Rio Grande do Sul, não tivesse organizado a resistência com o apoio de generais que comandavam o Exército na região e da própria população civil, que fez fila na porta do Palácio do Piratini, em Porto Alegre, para levar fuzis para casa.
Naquele ponto cruzado da história, Jango sofreu uma derrota decisiva por causa da incapacidade de controlar a economia, num surto inflacionário que alimentava a crise política. O economista Celso Furtado fez um Plano Trienal para tentar arrumar o aparato produtivo, derrubar os preços e retomar o crescimento. Jango nomeou um político conservador, Carvalho Pinto, para assumir o Ministério da Fazenda e acalmar os empresários. Não adiantou. Era preciso convencer os sindicatos a abrir mão de reajustes nos salários num primeiro momento para recuperar os ganhos mais tarde. Isso nunca ocorreu. Jango construíra sua popularidade como ministro do Trabalho de Vargas e era um presidente muito generoso em negociações sindicais. Quando tudo terminou e todos os seus aliados lamentavam a derrota, ele foi acusado pelo líder comunista Luís Carlos Prestes de despertar tendências direitistas no Partido Comunista Brasileiro (PCB) com a distribuição exagerada de concessões “capitalistas”.
No Brasil periférico, dependente e agrário dos anos 1960, tomava-se por força do presidente o que era na verdade uma posição de fraqueza. O Estado ruía. Os mesmos adversários que acusaram Jango de provocar a anarquia foram os primeiros a ajudar a produzi-la. Os oposicionistas do governo infiltraram agentes disfarçados entre os militantes de esquerda para ampliar a baderna e produzir, assim, uma sensação dobrada de medo e temor. Nas jornadas do fim do governo, encontravam-se lado a lado militantes do PCB, guerrilheiros em treinamento, sindicalistas do PTB, além de agentes da CIA e do Centro de Informações da Marinha (Cenimar), órgão que trabalhava contra Jango e transformara o cabo Ancelmo em líder de marinheiros rebelados.
Ao deixar o governo, Jango foi retratado como o mais perfeito político populista, aquele que promete o paraíso, mas entrega menos que o purgatório, não tem propostas consistentes para alcançar o que pretende e tenta vender ilusões que jamais serão atendidas. Trabalhando nessa perspectiva, o professor Octávio Ianni, autor do clássico O colapso do populismo no Brasil, condenou Jango, Vargas e também Juscelino como variantes de um mesmo sistema de governo que manipulava o eleitorado para deixá-lo submetido a “mudanças bruscas, golpes de Estado, oportunidades perdidas”. Com um olhar assumidamente marxista, a análise de Octávio Ianni alimentou adversários de Jango à direita e à esquerda. Ianni criticou o “populismo” como um desvio condenável no caminho da revolução socialista.
O drama é que, mesmo cercado por aliados radicais, Jango não era nem pretendia ser um revolucionário, diz o professor Jorge Ferreira, autor de João Goulart, uma equilibrada biografia do presidente. “Chamar Jango de populista é uma forma de despolitizar a discussão. Ele falava em humanizar o capitalismo. Era um político de centro-esquerda, um social-democrata nas condições brasileiras. Pensava numa economia pactuada entre empresários e trabalhadores, onde se respeitaria a propriedade privada, com uma melhor distribuição de renda.” Para quem gosta de associar Jango à demagogia mais marota, não custa lembrar que ele colocava a mão no bolso. Incluiu uma de suas grandes fazendas de Mato Grosso no primeiro lote passível de reforma agrária. Para o professor Ferreira, “a crítica permanente ao populismo desqualifica o processo democrático, sugere que o eleitor não sabe escolher corretamente”. Não por acaso, afirma Ferreira, “populista é sempre o outro”. Mas não um outro qualquer. É o outro que tem votos.
O marechal Castello Branco, que arrebanhou apoio para a queda de Jango na liderança de um movimento que condenava o “populismo carismático”, como se dizia na ocasião, proibiu eleições diretas e permaneceu na Presidência até 1967. O governador da Guanabara, Carlos Lacerda, imaginava que o golpe abriria um atalho para ele chegar ao Planalto sem que fosse obrigado a enfrentar adversários melhores de urna. Acabou cassado dois anos depois, da mesma forma que Ademar de Barros, o governador de São Paulo que tinha a mesma ambição. Quando o fim da democracia parecia uma festa, um grupo de generais tentou assumir os governos estaduais.
Jango não quis diminuir-se. Foi leal aos aliados e a seus valores "
MONIZ BANDEIRA, AUTOR DE "O GOVERNO GOULART"
Entre tantos personagens desastrados, iludidos, destemperados, trapalhões, Jango emerge como o mais triste. Desarticulado, enfraquecido, não foi herói nem político providencial. Chegou a imaginar que se salvaria nos braços das 200 mil pessoas reunidas no comício de 13 de março, no Rio de Janeiro. O plano era fazer dez comícios assim, no país inteiro, para culminar no 1º de maio, em São Paulo. Jango sonhava terminar o mandato. Caiu exatamente um mês antes. O golpe militar tinha pressa. Se Jango sobrevivesse até 1965, a luta política entraria no calendário da sucessão presidencial, em que JK era um nome imbatível. Isso criaria circunstâncias mais difíceis para uma ruptura.
No dia 31 de março, Jango fez movimentos contra o golpe, enquanto eles pareciam úteis. Informado de que uma frota americana estava próxima de Vitória, concluiu que não havia mais o que fazer. Era o lance final de uma convivência tensa e difícil com o governo americano, então numa fase de radicalização com a União Soviética por causa da crise dos mísseis, que deixou o mundo à beira da Terceira Guerra Mundial em 1962.
Durante o governo Jango, as grandes engrenagens da Guerra Fria elevaram o clima de tensão e confronto. Criada pelos EUA como promessa de fomentar na América Latina o desenvolvimento econômico e alternativas democráticas ao regime comunista instaurado por Fidel Castro em Cuba, a Aliança para o Progresso aos poucos abandonou a cláusula que repudiava governos nascidos de golpes de Estado. Passou a tolerar rupturas que beneficiavam os aliados dos EUA e abriram as portas para um ciclo militar no continente.
Ainda em 1962, aceitou-se uma intervenção que mudou o resultado de uma eleição presidencial no Peru. Em 1963, com receio de que a Guatemala fosse governada por um aliado secreto de Fidel Castro, a Casa Branca fechou os olhos para um golpe. No mesmo ano, Juan Bosch, presidente da República Dominicana, foi deposto por militares que o acusavam de cumplicidade com “os comunistas.” Em 1962, quando o embaixador dos EUA no Brasil, Lincoln Gordon, pediu ajuda para a oposição brasileira nas eleições legislativas, o presidente John Kennedy autorizou a CIA a contribuir com US$ 5 milhões. Kennedy também deixou registrado nas gravações da Casa Branca seu apoio à conspiração militar contra Jango. No fim de 1963, os programas de ajuda dos EUA ao Brasil foram suspensos. Só recebiam recursos, entregues diretamente, os governadores que faziam oposição a Jango.
Em 31 de março, Jango recebeu por telefone três ofertas para render-se e ficar no cargo, subjugado. Com poucas variações, elas propunham o fechamento do Comando-Geral dos Trabalhadores (CGT) e o abandono do projeto de legalização do PCB, clandestino. Recusou as três. “Jango não quis diminuir-se. Preferiu ser leal aos aliados e aos próprios valores”, afirma Luiz Alberto Moniz Bandeira, autor de O governo Goulart. Outros presidentes sul-americanos cederam e foram humilhados. Em 1973, apenas no primeiro ano do mandato, o presidente do Uruguai, Juan Maria Bordaberry, fechou o Congresso e abriu as prisões para adversários. Não foi submisso o suficiente e acabou colocado para fora do cargo em 1976. Na democratização, Bordaberry foi levado ao banco dos réus e condenado a 30 anos de prisão, responsabilizado, entre outras coisas, por 14 assassinatos. Presidente da Argentina entre 1958 e 1962, Arturo Frondizi foi destituído por um golpe de Estado. Ao sair da prisão, envolveu-se em várias conspirações contra a democracia e chegou a apoiar o tenebroso regime de Rafael Videla de 1976, responsável pelo morticínio que traumatiza a Argentina até hoje.
Na comparação entre derrotados, Jango deixou uma lição indiscutível: há circunstâncias em que é melhor perder com a democracia que imaginar que é possível vencer uma guerra contra ela.
TRAJETÓRIA1. Jango no velório de Vargas, que  o nomeou seu herdeiro político 2. Jango (à esq.) ao ser empossado como vice- presidente de Jânio (ao centro). Ele também foi vice de JK (à dir.)  (Foto: CPDOC/FGV/CDA Vargas, arq. AE, CPDOC/FGV/arq.Evandro Lins e Silva, arq. Ag. O Globo e Ag. RBS)