sábado, 9 de junho de 2012

Os neoliberais em desespero.


Economia & Negócios
|  N° Edição:  2221 |  01.Jun.12 - 21:00 |  Atualizado em 09.Jun.12 - 12:59

Investimento estatal salva até os ricos

Crise coloca em xeque o liberalismo econômico e mostra o Estado como o principal indutor do crescimento nos EUA e na Europa

Por Fabíola Perez

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FARTURA
Reunião do G8 nos Estados Unidos: os ricos
nunca precisaram tanto dos recursos públicos
Na segunda metade do século XX, as grandes potências globais construíram suas riquezas a partir de receitas liberais que pregavam a mínima intervenção do Estado sobre a economia e a máxima liberdade para o mercado. Símbolo maior do liberalismo econômico, os Estados Unidos exibiram com orgulho, durante as últimas décadas, a força desse modelo, comprovadamente mais eficiente do que qualquer outro, de qualquer época. A crise, porém, virou parte disso de cabeça para baixo. Hoje, os principais indutores do crescimento econômico global são investimentos públicos. Mais surpreendente ainda: em certa medida, são os recursos advindos de governos e empresas estatais que estão tirando as nações ricas do fundo do poço. “A crise financeira foi um marco para o governo americano usar o poder do Estado como condutor da economia”, diz Paulo Sérgio Gala, professor da Fundação Getulio Vargas. Todos os integrantes do G8, grupo que reúne as nações mais ricas do mundo, se tornaram adeptos do novo capitalismo de Estado. Desde 2008, Barack Obama injetou US$ 2 trilhões no sistema financeiro americano. Na Europa, o socorro público colocou centenas de bilhões de euros na economia. “A Europa vive hoje um período de forte endividamento, comparável à América Latina nos anos 1980”, diz Aldo Musacchio, professor da Harvard Business School. “A salvação, sem dúvida, passa pelo novo capitalismo de Estado.”

Mais do que dinheiro público despejado pelos governos, o capitalismo de Estado está ancorado principalmente no fortalecimento das empresas estatais. Até pouco tempo atrás sinônimos de incompetência administrativa, as companhias públicas jamais foram tão eficientes. Já há quatro delas (três chinesas e uma japonesa) entre as dez maiores empresas do mundo (em 2005, não havia na lista uma única corporação pública) e, de 2003 a 2010, elas responderam por um terço do investimento direto estrangeiro realizado em países emergentes. No campo da inovação, termômetro do potencial de negócios futuros das empresas, as estatais começaram, pela primeira vez na história, a superar as empresas públicas. Nos Estados Unidos, segundo relatório do próprio governo, as estatais inovam tanto quanto as melhores empresas privadas. Vale lembrar, o país é o berço de gigantes como Apple, Google e Facebook, cam­peãs no quesito inovação. No Brasil, estudo do IBGE mostra que as estatais já são mais inovadoras do que as privadas. Segundo a pesquisa, a taxa de inovação das companhias estatais é de 68%, quase o dobro do índice observado no setor público.

Embora o investimento do Estado tenha ajudado a blindar a crise nos países ricos, agora o desafio dessas potências é eliminar os riscos à economia que essas intervenções mais cedo ou mais tarde possam trazer. Em outras palavras: as nações e suas empresas precisam aprender a sobreviver sem consumir em excesso recursos públicos. Na Espanha, por exemplo, o descontrole orçamentário do governo contribuiu para o recrudescimento da crise – e para a situação de calamidade que tem feito o PIB encolher. Outro problema é a possibilidade de o capitalismo de Estado funcionar muito bem em algumas áreas e mal em outras. “É mais interessante ter o Estado como indutor da economia em setores como infraestrutura e tecnologia”, diz o economista Paulo Sérgio Gala. Para o professor Musacchio, da Harvard School, o ideal é um equilíbrio de forças. “O Estado pode entrar como um acionista minoritário, como ocorre no Brasil, mas a gestão deve sempre ser privada.”
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